quarta-feira, 30 de setembro de 2009

sobre o vazio

é grande, imensurável, por muito tempo é tão,
é implacável, é sinistro, é indescritível e em vão,
é o nada, que nos consome tudo,
num preto e branco cinema mudo

é um saco sem fundo, uma escada sem fim
é sorte do avesso, carvão de marfim
é tudo e é nada, é nada e enfim,
o nada me rouba o tudo, tudo que há dentro de mim

ocupa espaço no momento desocupado
se alimenta de vestígios de amor decepcionado
não aceita trégua, é uma batalha infindável
é um vazio profundo, uma doença incurável

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

produto do ócio

Seria tudo mais fácil se eu gostasse de legumes, se houvesse um botão de liga/desliga dos sentimentos, se nós vivêssemos na Pangeia, e se o mundo não fosse tão grande.
Seria tudo mais fácil se a sociedade não fosse tão padronizada, se opiniões diferentes não fossem tão repreendidas, e se o Estado não fizesse tanta força pra nos fazer acreditar que está tudo bem e funcionando.
Seria tudo bem mais fácil se eu fosse ignorante, e feliz. Como diz o outro, ignorância é uma bênção.
Seria tudo bem mais fácil se pudéssemos escolher tudo o que nos diz respeito à vida. De quem gostamos, do que gostamos, o que faremos. Seria ótimo se não precisássemos nos preocupar com a interferência ou que consequências essas escolhas trarão para o meio.

Tudo isso é relacionado a sentimentos.
Sentimentos. Não podemos viver com eles, não podemos viver sem eles.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

trecho, 2

Chegando ao shopping, as duas foram direto à sua loja preferida: Paraler. Uma papelaria, loja de discos, de livros, revistas e jogos para computador; tudo unificado num só monstro de muitos metros quadrados.
- Eu vou ver as revistas – disse Cacá e indo em direção à parte de revistas. Bruna só deu de ombros e foi até a seção de livros de bolso.
- Até tu, Paraler? Ou melhor, nem tu, Paraler. Nunca vou encontrar o livro pelo qual tanto anseio. – Bruna disse para si mesma.
- Falar sozinha é o primeiro sinal de insanidade, sabe – disse uma voz conhecida, por cima do ombro de Bruna.
Ela sabia muito bem de quem era a voz, mas achou que estava ouvindo vozes. Aliás, não achava; mas se forçou a acreditar, porque encontrar de fato o dono da voz faria uma total bagunça em sua organizada e preparada cabeça.
- Olá, vozes da minha cabeça. Boa noite! Se vossas senhorias fizessem o favor de não me chamar de maluca, sua reles escrava faria o possível para não chamar a atenção de pessoas mentalmente sãs. Câmbio e desligo. – Bruna disse.
- Não, Bruna, as senhoras vossas vozes não querem desligar. Elas ordenam que você se vire 180º e encare seu destino!
Bruna riu por dentro, e fez o que o garoto mandou. Ao ficar cara a cara com o olhos azuis, ela abriu um grande sorriso, sincero. Ele retribuiu o gesto.

domingo, 13 de setembro de 2009

obstáculos

Idiotice é esperar que todos vão ser como você. Estupidez é pensar que algo vai ocorrer da forma exata como você planejou. Burrice é achar que não há empecilhos.
Empecilhos, problemas, indecisão, confusão, dor de cabeça, preocupações, obstáculos, barreiras, sempre um desses vai estar no caminho. Bem-aventurados são aqueles que resistem à tudo sem machucados.
Empecilhos, problemas, obstáculos, barreiras... são todos (relativamente) fáceis de se lidar com. Sim. Um problema uma hora se resolve. Um empecilho, em algum momento, é contornado, como o obstáculo. Barreiras são quebradas.
Preocupações são controladas e dores de cabeça são medicadas.
Indecisão. "Se sou indecido? Ah, não tenho certeza", diria o indeciso. Indecisão é a alma querer uma coisa e o cérebro outra. Indecisão é você precisar daquilo, mas não querer aquilo. Indecisão é gostar do sim, mas precisar do não.
Confusão. Ausência de ordem ou de alguém que ordene, claro. Confusão é você precisar daquilo, mas não querer aquilo, e ao mesmo tempo querer estar e ter aquilo. Sim. Confusão é indecisão ao quadrado.

Não gosto de me confundir, não gosto de estar indecisa... ambos atrapalham muito. Em todos os aspectos. Ser decidido e transparente sempre ajuda. Pensem a respeito.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

- trecho -

- Eu tenho um rascunho de um texto meu no meu caderno de português. Quer ler? – Bruna perguntou.
- Com todo o prazer.
Então Bruna abriu o caderno, e mostrou o texto ao seu mais novo fã.
- Esboço sobre o amor. Ele vem quieto, sem fazer cerimônia, mas arrasa com todos logo que chega. Muda pensamentos, atos pessoas, ideologias. Move passeatas, contribuições. Mobiliza nações. – Ele começou a ler.
E enquanto ele lia, atento, concentrado, ele franzia a testa e dava um meio sorriso a cada ponto final. Seus olhos percorriam o texto com muita rapidez. Ele devia ser um grande fã de livros. Os olhos às vezes paravam, voltavam; mas depois continuavam. Sua boca, vez ou outra, se mexia; lendo silenciosamente palavras marcantes do texto. Bruna observava cada detalhe, cada gesto, como se ela nunca mais fosse vê-lo. Como se ela nunca mais fosse se lembrar do ritmo em que os dedos de ele batiam no braço do banco; do seu tique nervoso de mexer a perna; de como os seus cabelos castanhos e naturalmente lisos às vezes caíam-lhe na frente de seus belos olhos. De tempos em tempos, ele percebia o olhar de Bruna e a lançava um sorriso tímido, com a pergunta ‘ei, o que foi?’, mas logo voltava sua atenção ao texto.
Quando ele terminou de ler, soltou um grande suspiro, e deu um sorriso maroto. Seus olhos carregavam uma expressão mais marota ainda.
- O que? O que foi? – perguntou Bruna. ‘Se ele não tiver gostado, eu não me perdoarei jamais’, ela pensou.
- Está ótimo. Você já pensou em escrever um livro? – ele questionou.

trecho de um conto, no qual estou trabalhando.
totalmente fictício.