sexta-feira, 30 de outubro de 2009

à minha (segunda) família

A cada palavra dita por cada um daquele ônibus ia despertando em cada coração mais e mais saudade, vontade de parar o tempo, lembranças, piadas internas, momentos que passaram juntos... Todos agora compartilhavam uma nostalgia, um aperto no coração mútuo.

Afinal, eles tinham de compartilhar uma nostalgia, mesmo. Cresceram juntos. Eram a segunda família de cada um ali presente. Apesar de algumas diferenças individuais, todos tinham as mesmas memórias, as mesmas histórias; todos sabiam de cor tudo relacionado à eventos da escola, pessoas que já passaram por lá - tanto professores quanto alunos - e todos tinham em mente um só pensamento: o quanto seria difícil deixar essa família de lado no ano seguinte.

Família que é família sabe das manhas de cada um. Sabe dos problemas, dos gostos, dos desgostos, e dos causos de cada um. Família que é família briga, discute, grita; mas depois se abraça, se desculpa e tem momentos ótimos junta. Família que é família sabe que não existe coisa pior que uma separação. Família que é família aguenta a cara de sono de cada um, aguenta o mau humor, aguenta as manias, aguenta os surtos, e, por mais que não admita, família que é família gosta e não se vê sem isso. E isso é a definição mais completa do que aquela sala descobriu ser, naquele momento.

9º ano 2OO9, nós somos uma grande família, e eu vou sentir uma falta imensa de vocês ano que vem.

sábado, 24 de outubro de 2009

rotina

Chegou da escola.

Após jogar sua mochila no canto demarcado da cama, foi até o banheiro e olhou-se no espelho, para ver quais pensamentos apareceriam em sua mente. "Oi, meu nome é Bruna", pensou. "Eu sou. Eu penso e existo. Eu sou a Bruna.". Isso não ajudou muito.
Fez uma careta. "Bruna, bela porcaria". Mostrou a língua para o próprio reflexo.

Jogou-se na cama. Olhou para o teto, e sentiu-se olhada. Sentiu-se observada. Sentiu-se presa naquelas quatro paredes, um teto e um chão. Sentiu-se ironizada pela vida. O seu quarto, o único lugar em que ela podia ser ela mesma, surtar, gritar, escrever, cantar, pensar, ser; a fazia se sentir presa.

Olhou para seus All-Stars, sujos, velhos, detestados pela sua mãe. Sentiu-se olhada. Sentiu-se adorada. Sentiu que os All-Stars gostavam mais dela que o teto. Sentiu que seus All-Stars, com suas solas gastas e cadarços tingidos, que a acompanharam em sonho e em decepção, em oferenda e em sacrifício, em euforia e em apatia; permitiam-na ser mais do que seu quarto.

O quarto a olhou, com seus vários olhos. Olhou para os All-Stars.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

quem sou eu?

um doce apimentado e levemente ácido; com uma mochila nas costas contendo livros e canetas coloridas; uma espada em uma mão; um escudo na outra; algumas idéias na cabeça.
e muita, muita coisa preenchendo seu coração.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

aleatório

Ela se sentou e analisou suas mãos. Imaginou como as mãos dele se encaixariam perfeitamente com as dela. Imaginou como ela queria que as mãos dele precisassem das mãos dela, também. Chegou à conclusão de que seria melhor se as mãos de ambos se encontrassem.
Olhou para um lado, olhou para o outro... Tudo em seu pequeno quarto a fazia lembrar dele. Desde um pôster, a uma letra de música, até um brinquedo bobo. Era impressionante o jeito como ela ficava quando gostava de alguém. Era bonito de se ver. Ela se jogava de corpo e alma, e tornava seu sentimento interminável enquanto durasse. Seu pequeno coração estava acostumado a se expandir de um tanto imensurável enquanto esse sentimento durasse.
Olhou para seu colo e notou que seu caderninho de anotações ainda estava ali. Abriu-o, deu uma folheada, até chegar na página em que estava escrevendo. Obviamente, recados e mais recados de amigas e amigos falando sobre o garoto. Anotações dela falando sobre o garoto. Tudo, tudo no momento girava em torno do garoto. E ela até gostava de se sentir assim, submissa a alguém.
Analisou suas mãos, novamente.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

produto da insatisfação

Insatisfação com o que?
Comigo, com as pessoas, com o mundo.
Estou insatisfeita. Literal e totalmente satisfeita.

Tá, isso talvez seja uma hipérbole. Tá, é uma hipérbole. Eu gosto de alguns traços meus, e de algumas pessoas, também. Mas quando digo insatisfeita, estou generalizando tudo. Estou insatisfeita com a grande maioria das pessoas.

Não decepcionada. Cansei de me decepcionar, não espero mais nada das pessoas. Elas não me surpreendem mais. Posso contar nos dedos as que conseguem me surpreender todos os dias. Eu gosto disso, de surpresas, de idéias novas, reflexões novas... gosto de pessoas que me façam pensar, eu queria ter um garoto que me fizesse pensar ao meu lado.

Me jogo de cabeça nas coisas, e eu estar insatisfeita é produto disso! Com certeza! Construo castelos e derramo expectativas sobre lama (no sentido de ser um terreno instável e podre, he). E eu não vou deixar de ser assim. Não vou deixar de me jogar de cabeça nas coisas, por que um dia, isso há de me trazer coisas boas. Eu queria um garoto que se jogasse de cabeça nas coisas.

Tenho um gênio terrível. Sou uma mistura da Abby (The Ugly Truth) com a Kat (10 things I hate about you). Sabe? Neuróticas, duronas, difíceis, diferentes, reconhecem seu valor. Me identifico mais com a Kat por ela ser adolescente. Gente, eu sou igualzinha! Sabe? Revoltada com a vida. Não me esqueço da cena em que ela rasga um panfleto sobre o baile de formatura. Mas então aparece alguém que sabe lidar com seu gênio terrível. Mas é que eu sou instável. A maioria das pessoas acha estranho eu misturar um poço de racionalidade com um oceano de sentimentos. Eu queria um garoto que compreendesse isso e soubesse lidar comigo.

É, de um desabafo, saiu uma lista de critérios. Como eu sou ridícula.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

esboço sobre traição - parte 3: perdão

(Sim, desenterrei)

- Eu quero seu perdão; o garoto disse.
A garota o olhou com um olhar que confundia compaixão com desprezo. Sua jovem mente não sabia mais o que pensar dele. Julgá-lo antes disso era bem mais fácil, mas agora ele se mostrou tão frágil, tão sincero, e seus olhos, aqueles olhos; tão tristes e suplicantes. Como negar? Negar? Não negar?
Se ela não negasse, estaria passando por cima do seu amor próprio, do seu orgulho. Afinal, ele a traíra. E se traíra, também. Ao entrar naquele quarto, deixara sua dignidade atrás da porta. Ele estava se rebaixando de um tanto, e colocando-a num pedestal tão alto... e ela não gostou daquela responsabilidade.
Ela o tinha nas mãos, e sabia disso. Ambos sabiam.
- Não sei se você merece meu perdão; a garota disse, lançando um olhar cortante ao garoto.
Ele estremeceu. Não se assustou tanto, afinal, pois esperava uma reação desse tipo da garota. Ele entendia os motivos dela, e estava certo de que agora teria que provar para ela que, apesar da traição, ainda mantinha sua integridade.
- Sabe... seus olhos falam por você; ele disse.
E ela simplesmente odiava isso. Odiava o modo como ele brincava com ela, como ele a fazia se apaixonar a todo instante, como a olhava... os olhos. Sempre a fissura, a obsessão pelos olhos. Isso era o ponto máximo em comum entre os dois.
- Eu sei que você não mente... mas você mentiu pra si mesmo, e mentiu pra mim, e eu não sei o que pensar disso. Dê-me um tempo; a garota disse, pausadamente.

O garoto consentiu, com a cabeça, e se retirou da pesada sala. Com ele, a densidade daquele lugar. Mas suas consciências apenas condensaram-se mais.

coragem

Ouvimos tanto falar disso. Do conceito. De "ser corajoso". Mas, afinal, existe um conceito só de coragem?

Eu acho que não. Ao meu ver, ser corajoso é prosseguir com algo até o fim. É encarar seus medos. Todos. Inclusive o medo de não conseguir continuar. Coragem é não ter medo de se machucar, de se decepcionar, e se entregar de cabeça, de corpo, de alma. Coragem é mudar o visual sem medo de críticas. Coragem é aguentar de cabeça erguida toda a negatividade, toda a intriga da oposição, tudo o que vem contra você.

Veja bem, coragem é diferente de falta de juízo. Você não tem juízo a partir do ponto que sabe das consequências, consequências ruins e que te prejudicariam, e segue em frente. Ser corajoso é ser também racional. É não agir impulsivamente e irresponsavelmente. Aquele que não tem juízo age de acordo com seus impulsos e vontades do momento. Isso não é coragem. É estupidez.

Eu me pergunto até que ponto eu sou estúpida ou corajosa. Porque sei bem que me jogo de cabeça em praticamente todos os aspectos da minha vida, mas acho que meu sensor que indica "coragem" ou "estupidez" está (ou é) meio desregulado. Lanço aqui uma reflexão: quando é que NÓS sabemos o que PARA NÓS é estupidez ou coragem?

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

realmente,

sinceramente? honestamente? do fundo do meu coração?

eu queria ser extremamente racional.
eu queria não me contentar com achismos. ODEIO achismos. mas eu me contento com eles, por algum motivo. que nojo.
eu queria conhecer só pessoas certas, só nos momentos certos.
eu queria que absolutamente tudo fosse recíproco - a vida seria mais fácil. ódio, indiferença, amizade, amor, simpatia.
eu queria ser menos paradoxal.
eu queria ser menos adolescente.

eu queria ter uma bomba, essa é a verdade

domingo, 4 de outubro de 2009

identidade

Ultimamente tenho refletido muito sobre minha identidade (afinal, suponho eu, que isso seja o que adolescentes fazem). Do que eu gosto, do que eu não gosto. Qual meu estilo, quais os meus princípios, no que eu acredito, o que eu acho besteira, o que eu quero ser, o que eu não quero ser, entre outras coisas.
É inevitável para mim não me questionar em frente a situações esclarecedoras. E devo pontuar que tenho passado por uma série, um desfile, uma parada de situações esclarecedoras, de um tempo para cá. E esses questionamentos sempre me trazem muitas dúvidas e poucos esclarecimentos.
Penso em quem eu sou todos os dias. E todos os dias, eu descubro algo em mim do qual eu gosto, e algos em mim dos quais eu não gosto. Até aí tudo bem. O que me confunde é que um dia eu gosto de certo traço na minha personalidade. No dia seguinte eu já não gosto mais! E então é que entra a indecisão em cena. E então é que entra o TEMPO em cena. E então é que entra a minha IMPACIÊNCIA em cena. E então entra a indecisão de novo. É um círculo vicioso. Estou presa dentro de mim sem chance de saída.

A não ser que alguém me ajude. Amigos tentam me ajudar, me lembrar de quem sou eu. Mas é preciso algo mais.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

admirável mundo novo - rascunho

A predominância de citações de Shakespeare se dá ao fato de que Shakespeare, por ter vivido durante o renascimento, escrevia muito sobre sentimentos característicos de humanos. Amor, ciúme, ódio, afeto. Tudo o que essa nova sociedade inventada no texto é privada de sentir, pois, segundo seus precursores, com sentimentos há a instabilidade pessoal. Com a instabilidade pessoal, há a instabilidade social, ou seja, a desordem, a anarquia, a bagunça – e isso seria um desastre para uma sociedade completamente controlada pelo Estado.

Partindo dessa dúvida, muitos anos antes do começo da história (no livro), o Estado decidiu controlar os indivíduos de forma que eles não teriam pensamento próprio, opiniões próprias ou valores próprios – eles apenas seguiriam o que o Estado acreditava que deveriam seguir. Assim, revoluções, greves, desigualdade social e insatisfação seriam riscadas da história. Todas as pessoas são criadas em laboratório. Ficam o período equivalente a nove meses em uma espécie de câmara, recebendo nutrientes necessários e tendo definida sua vida, suas características e seu futuro.

O que garante o “sucesso” desse modelo de sociedade são, de fato, as chamadas “lições hipnopédicas”. São gravações de uma voz dizendo-lhe repetidamente as mesmas coisas, durante o sono. A quantidade de vezes que uma frase é repetida depende da sua importância no futuro e na formação dos indivíduos. Essas frases garantem a satisfação, acomodação e conformismo de todos os indivíduos em relação à sua vida, casta e futuro. Frases como “sou feliz porque sou uma Beta, pois imagine, Alfas têm trabalho demais e Deltas são inferiores e usam uma cor de roupa horrível” são repetidas até o fim da vida.

A sociedade é extremamente capitalista e incentiva o consumismo excessivo. Nada pode ser reaproveitado, e todas as atividades disponíveis envolvem o gasto no meio. O conformismo também é uma característica presente nesse mundo fictício, junto com a promiscuidade e o desligamento dos sentimentos (e da família)– a promiscuidade tem relação com Freud. O condicionamento humano feito nesse meio apóia a atividade sexual desde as mais tenras idades. Ou seja, a relação sexual como prazer e diversão, não só como procriação. Freud é comparado/confundido com Ford, o inventor da linha de montagem em massa dos indivíduos.

- rascunho da análise -