terça-feira, 30 de novembro de 2010

mamãe, quero uma barbie!

Good times for a change. See, the luck I've had can make a good man turn bad.
So please, please, please... let me, let me, let me, let me get what I want this time.
Haven't had a dream in a long time. See, the life I've had can make a good man bad.
So, for once in my life, let me get what I want.
Lord knows, it would be the first time.
Lord knows, it would be the first time.

Sim, por favor, me deixe conseguir o que eu quero dessa vez.

É que eu cresci com a idéia na cabeça de que eu ia morar numa casa tão grande, e todo dia ia acordar e me pentear sentada numa penteadeira linda, branca, com detalhes dourados, feito uma de princesa, sabe?, e não aconteceu bem assim. Eu queria uma pantera preta, e hoje tenho um cachorro pequeno. Eu queria um quarto grande pintado inteirinho de verde limão e prata, mas a cor das paredes é bege. Eu queria um laço vermelho pra amarrar no meu cabelo, mas só tenho uma tiara. E as bonecas, queria ter tido tantas Pollys, tantas Barbies, e eu até tinha algumas, mas eu queria sempre mais, sempre muito mais, e eu não tinha. Não tinha.

E isso é tão horrível!
Não o fato de eu não ter conseguido todas essas coisas, mas o fato de que desde pequenos somos condicionados a querer mais e mais, nunca nada é o suficiente. Se você ganha uma boneca, logo quer a roupa de festa da boneca, e a casa da boneca, e o carro da boneca e os amigos e namorados da boneca. Quando ganhamos o que queremos, ao invés de nos contentarmos, queremos mais coisas ainda. É a sociedade do descartável, da insatisfação, do instantâneo. E essa geração de crianças insatisfeitas e mimadas hoje cresceu, e é a geração dos adolescentes promíscuos e sem amor próprio.
Sim. A menina que antes queria a Barbie agora quer beijar um garoto. E ela consegue esse garoto com a facilidade com que conseguiu a Barbie. E essa garota vai descartar o menino assim como descartou a Barbie.
Não há mais a espera, a ansiedade, a alegria ao abrir os presentes de Natal e ver que aquele brinquedo que você vem pedindo há meses finalmente é seu. Não há mais a paquera, a sedução, a demora. Tudo se entrega com a mesma facilidade e praticidade com que se descarta.
Somos uma geração de consumistas, de insatisfeitos, de instantâneos; desde comida até relacionamentos. E, estendendo o assunto um pouco, até drogas. Quando questionados sobre a razão pela qual os adolescentes usam drogas, respondemos que é uma 'forma de escape'. Isso reflete 100% os ideais a que somos apresentados hoje. É uma forma de escape? Sim, enquanto dura o efeito da droga é uma forma de escape. É muito mais fácil se drogar todos os dias do que frequentar uma psicóloga e ter que encarar seus problemas, porque isso leva tempo e esforço por parte de quem tem o problema.

E quando/se eu tiver uma filha, vou pensar muito bem antes de surpreendê-la com uma Barbie.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

perdas

Nesse ano foi tudo muito drástico e intenso. Do nada começo a ter duas provas por semana, começo a ter que realmente estudar, a ter mols de quilos de matéria por dia... a quantidade de coisas que eu aprendi esse ano é absurda, tudo é absurdo, o ano passou tão rápido, eu tenho mais um ano e meio pra decidir o que eu vou ser da minha vida, me explica, como lidar?

Mas o problema não é isso.

Depois do segundo ou terceiro mês, você se adapta à rotina de ter que estudar um pouco mais, duas provas toda semana, mols de quilos de matéria por dia e assim por diante. O triste, triste de verdade, é ver pessoas de quem você gostava, quem você apreciava, mudar para algo totalmente nada a ver. É triste se distanciar de gente com quem você conviveu a vida inteira. É triste saber que enquanto algumas pessoas mudam para melhor e amadurecem, algumas decidem que não querem isso. É pesado estar numa escola em que seus antigos amigos estudam e você olhar para eles e dizer, "eu não tenho mais nada a ver com isso". As pessoas mudam tanto.
Me lembro que nessa mesma época ano passado eu estaria escrevendo sobre como tenho uma segunda família, sobre como nós nunca nos separaríamos, sobre como nossa amizade é pra sempre. E lembrar disso é tão frustrante, e eu me sinto tão impotente!
Era tudo tão fácil... tínhamos uma cumplicidade, só de olhar nos olhos de alguns dos meus antigos amigos nós já começávamos a rir, e hoje somos como estranhos... eu acho que tenho essa tendência de afastar pessoas, acho que tenho essa tendência a mudar rápido de mais e não dar tempo para os outros me acompanharem.
Sempre ouvi falar que sou muito séria, muito mãe, muito preocupada e coisas assim, mas o que eu posso fazer? Eu sou assim, nem sempre fui assim, mas acho que quando se faz 15 anos é hora de olhar para o futuro de daqui 3 anos, e não para a festa do próximo fim de semana, certo?
Mas, de qualquer forma, nesse aspecto eu sou triste, sou inconsolável, eu queria que tudo tivesse ficado do jeito que era. Eu mudei, mas várias pessoas também mudaram do avesso, fizeram outros amigos que não têm nada em comum comigo, e eu?, que sou uma pessoa muito bem aceita e que se encaixa em qualquer grupo social, fiquei aí, perdida. Tentei explicar esse fenômeno de ruptura de relacionamentos de muitas formas. Eu comecei a namorar, amadureci muito em pouco tempo, e da mesma forma que eu mudei, as pessoas mudam, da sua forma, também... Se eu sei bem quem eu sou e não gosto de ficar indo na onda de grupos específicos, também há gente que não é tão certo assim de sua personalidade e não vê problemas em mudar de estilo, comportamento ou atitudes. E não digo isso de forma pejorativa, pois somos adolescentes, a nossa maior crise existencial é com relação à nossa personalidade. (Bom, pelo menos, os 1O% da população adolescente que reflete um pouco mais a respeito de si próprio passa por essa crise em algum momento)

Bom, o que eu quero dizer, no final das contas, é que eu sinto falta de tudo. De ter uma turma grande, de ser cúmplice de alguém, sinto falta de sair com vocês. :/

(Acrescentando, sou eternamente grata por ter conhecido pessoas tão legais também, esse ano... acho que eu teria ficado deprimida sem vocês <3)

domingo, 21 de novembro de 2010

eu, mimada?

Eu sou uma garota mimada que quer criticar o que os outros fazem?
Eu critiquei em algum momento quem saiu para protestar?

O que me irrita não são comentários de pessoas que não tem a integridade de mostrar a cara. O que me irrita são comentários de pessoas que simplesmente não têm habilidade nenhuma de interpretação de texto; não se dignam a ler outras postagens do meu blog para saberem do que estão falando... pedem para eu me informar, mas não se dispõem a fazer alguma coisa quando é para falar do que EU faço.
Eu já disse MUITAS E MUITAS E MUITAS VEZES que eu não acho que eu tenho capacidade de fazer alguma coisa prática para defender os MEUS ideais, e que o máximo que eu tenho a possibilidade de fazer é segurar a minha lâmpada e tentar iluminar quem estiver ao meu redor. Eu tenho 15 anos, não tenho meu próprio dinheiro, não sou formada em jornalismo, não trabalho com mídia e principalmente, não existem muitas pessoas por aí que pensam como eu e que iriam comigo a uma passeata contra a preguiça ideológica dos adolescentes de hoje.
Se sua mente é pequena o suficiente para achar que somente idéias não movem ou mudam as pessoas, acho que você devia se informar um pouco. Já ouviu falar de Nelson Mandela? Então. Ele passou vinte anos na prisão e de lá de dentro conseguiu mudar o mundo. Ele não fez passeatas de lá de dentro, ou fez, que eu não tô sabendo?
Cada um contribui para a melhoria do mundo da sua forma. Artistas pintam, atores atuam, escritores escrevem. Atos para a mudança do mundo não estão só em ações PRÁTICAS, como PASSEATAS, mas em atos pequenos, como o jeito como você conduz sua vida. Isso sim mostra quem é a pessoa e o que ela pensa. E há quem goste de sair às ruas e protestar, o que TAMBÉM é uma forma digna. Isso NÃO SIGNIFICA que quem não faz música ou sai às ruas é desengajado ou MIMADO.
Ficou claro?
E se depois desse texto ainda acharem que eu sou mimada, aí, bom, não sei, acho que a forma mais digna de protestar contra isso seria mostrar tua cara. =)

sábado, 20 de novembro de 2010

13984713948ª resposta ao anônimo

"Primeiro que o ENEM não é só para as 1ª fases, para algumas faculdades como a UFSCAR ele é 100% utilizado, ta na hora de se informar um pouco se vc gosta tanto de criticar td. Segundo, que VC NUNCA FEZ UM NADA e quer MESMO criticar as pessoas que fazem? Independente de seus motivos, se as pessoas se sentem prejudicadas elas tem mesmo é que reclamar ... vc não faz idéia de como é prestar um vestibular ou enem e quer ficar criticando os milhões de estudades que estão passando por isso? Reclamar para a anulação do enem é a maneira mais rápida de resolver o problema esse ano e para os próximos tb, enquanto a educação não melhora no país, quando VC passar por isso, se for passar, talvez entenda um pouco melhor. Enquanto isso não fale sobre o que não sabe."

Eu em algum momento falei mal de quem saiu para se manifestar? Eu disse o contrário. Disse que acho muito legal quem sai para se manifestar, independentemente do motivo. Acho muito bom que quem se sentiu prejudicado foi participar das passeatas, e eu disse que acho que as manifestações podem ter algum efeito nos anos seguintes. O meu post, caso o senhor anônimo não tenha entendido, foi direcionado ao fato de que eu não concordo que essas manifestações são a volta do movimento estudantil.
Ficou claro?
=)

E a partir de agora vou bloquear os comentários anônimos. Se quiser criticar meus textos, tenha o mínimo de respeito comigo e quando for me xingar, mostre sua cara.
E se você, anônimo que me escreveu, estiver passando por vestibulares, acho bom melhorar a sua interpretação de textos.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

a volta do movimento estudantil?

Tenho lido em muitos lugares e ouvido de muitas bocas que os recentes protestos contra o ENEM são "a volta do movimento estudantil". Ouvi também falar que os protestos eram para defender nossos direitos como estudantes. E não concordo com isso.

Primeiramente, concordo 100% com o fato de que as pessoas se manifestaram, adoro a idéia e o fato de que ainda há pessoas que são engajadas e que saem para protestar quando se encontram numa situação injusta - muito melhor tomar uma atitude do que só reclamar. A idéia dos protestos é ótima. Realmente o governo precisa dar mais atenção à área da educação; se o ENEM é a primeira fase de universidades federais (por sinal, muito boas) então devia ser bem feito.

Nós, como estudantes, temos certos direitos, como acesso a escola; igualdade e liberdade de aprendizado; temos inclusive direito à garantia de padrão de qualidade e ao ensino de qualidade gratuito. Mas em que lugar na Constituição foi dito que temos direito a, por exemplo, uma anulação de uma prova mal elaborada? Ao meu ver, fazer um protesto visando a melhoria da educação em escolas públicas é mais palpável do que um contra uma prova malfeita. O protesto só foi feito porque, por ter se tornado a primeira fase de universidades federais, atingiu as classes mais altas da sociedade. (Leiam a Constituição, Capítulo terceiro, seção primeira, da Educação.)

Os "movimentos estudantis" mais famosos, no Brasil, foram a luta "O Petróleo é Nosso", os contra o ingresso do Brasil na 2ªGM, os da época da ditadura, os movimentos das Diretas-Já e os a favor do impeachment de Collor. Ou seja, todos os movimentos tinham engajamento e fundo político-econômico. Deve-se mesmo comparar movimentos a favor de eleições diretas com protestos contra uma prova de qualidade duvidosa?

Se é para protestar com base na prova do ENEM, então que protestem contra a falta de atenção do governo para as questões educacionais, e isso não envolve só a prova de primeira fase para o ingresso numa universidade federal. A questão educacional é muito maior. Os "direitos do estudante" vão além de uma prova.

Se eu acho que a série de protestos que aconteceram nas cidades brasileiras vai alterar alguma coisa? Depende. Se o futuro governo Dilma decidir ser popular, então ela deverá dar atenção a movimentos populares. E mesmo que nesse ano não tomem providência nenhuma; me dou ao luxo de acreditar que ano que vem a prova estará melhor.

A prova. Já o resto...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

livros, escapatórias

Estava lá sentada num canto, numa livraria qualquer, lendo um livro qualquer para ajudar a passar o tempo. Não estava realmente prestando atenção em qualquer coisa, pois ao mesmo tempo que seus olhos percorriam com velocidade as linhas do texto, sua visão periférica estava atenta a qualquer pessoa diferente que passasse por lá. Gostava de observar os indivíduos, suas atitudes e imaginar uma história para cada um.
Ela sentia-se extremamente bem no meio de pessoas desconhecidas, principalmente em livrarias. E enquanto estava sentada, gostava de olhar para cima, para aquelas prateleiras imensas de livros, e sentir-se pequena entre tantas palavras de tantos autores diferentes. Sempre colocava-se no lugar de Bela, quando esta entra na biblioteca de Fera e vê aquela quantidade de livros, todos esperando por um leitor.
A verdade é que, enquanto alguém não a lê, a história não existe. Ela passa a existir, cada vez mais, a cada página virada pelo leitor. Ganha vida quando esse leitor reflete sobre o que foi contado, sobre a mensagem, sobre a moral da história. Ganha mais vida quando esse alguém recomenda-a para outro alguém. Mas a partir do momento que o ciclo é quebrado, a história fica dentro do livro, adormecida, inativa, inútil.
E era por isso que, sempre que podia, ela escolhia o livro mais abandonado e o dava vida. Sentava-se, ajeitava sua mochila para que esta servisse de almofada e tentava conter os protestos do estômago, enganando a fome com um capuccino.
A história lida confundia-se com a história vivida; e ela começava a enxergar as personagens e situações acontecendo ali, bem em frente à ela. E quando o livro era fechado e ela voltava ao nosso universo, tudo parecia tão sem graça e sem sentido, as pessoas não pareciam mais tão interessantes. Não as pessoas reais, medíocres, com suas vidas reais e histórias reais. Então sua mente voltava ao ciclo de criação de vidas mais interessantes àquelas pessoas. Escrevia, lia, relia, reescrevia, até que aquelas vidas parecessem boas. Era sua forma de contribuir para um mundo melhor, pois ela sabia que existiam pessoas como ela que almejavam por uma vida menos medíocre. Quanto mais livros, mais escapatórias, mais decepção e mais desejos.
E esse ciclo continuaria sempre que houvessem livros para serem lidos e vidas para serem melhoradas.

E, podem escrever, a tendência é de a necessidade por uma escapatória desse mundo aumentar cada vez mais...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

happy ending, part 2 - final

Annie apertou os olhos e mordeu o lábio, quase fazendo-o sangrar, de raiva. Detestava sentir que não estava mais no comando. Detestava sentir principalmente que não comandava mais a situação com Tiago. Disse a coisa mais cínica que veio-lhe à cabeça.
- É. Parabéns. Você devia fazer psicologia!
- Annie. - Tiago as mãos na cabeça, em sinal de rendição. - Vamos parar com isso, certo?
Ela olhava para ele, encorajando-o a continuar. Ele olhou para cima, fechou os olhos, e tentou esquecer seu medo de ser ridicularizado, não correspondido ou desprezado. Andou até Annie e colocou suas mãos no rosto dela.
- Certo, vou te dizer o que eu estou pensando. Primeiro, não sei de onde você tirou que eu gostava da sua irmã de um jeito diferente. Segundo, não sei de onde você tirou que você gostava do meu irmão. E, terceiro... - Ele suspirou, como se juntando forças para continuar - não sei por que apaixonar-se por mim parece-te uma ideia tão absurda e... ruim. Porque, sabe... tudo seria tão mais simples, quero dizer, se você gostasse de mim, e... recíproco...
Ele tirou suas mãos do rosto dela e esperou por uma reação. A cada palavra dita por Tiago, Annie torcia mais forte a barra de seu casaco. E quando Tiago terminou seu discurso, a primeira coisa que fez foi separar as mãos dela do casaco. Os dois ficaram lá, de mãos dadas, encarando-se, pensando qual seria a próxima coisa a ser feita.
Tiago, observando a reação, ou falta de ação de Annie, decidiu soltá-la.
- Certo. Se isso é o que você quer, então eu não toco mais no assunto. - Tiago ameaçou voltar para a sala de televisão, mas ouviu a voz fraca de Annie.
- Calma, espera, Ti... - Annie quase nunca chamava Tiago pelo apelido. - Eu... é que...
Tiago encarava-a com uma expressão de riso. Ele sabia que ceder, admitir e perder coisas nunca fora o forte dela. Annie encarou-o com um olhar suplicante, que dizia "eu tenho mesmo de passar por isso?", e Tiago lançava-lhe um que podia ser interpretado como "sim, você tem".
- É que, Ti, eu não queria gostar de você.
- Ótimo começo.
- Cala a boca, você sabe que isso é difícil pra mim. Por que faz isso comigo? Que idiota, você sempre faz isso e...
- Continua, Annie, não muda de assunto.
Annie apertou os olhos. Ficou parada um instante, olhando pra cara de zombador de Tiago. Olhou para baixo, respirou fundo, depois deu dois passos à frente, alcançando Tiago, então aproximou-se dele suavemente, e, por fim, beijou-o.
Tiago, surpreendido, demorou a perceber que aqueles lábios macios colados aos dele eram de Annie. E demorou a perceber que aquele sonho de beijá-la, que ele tinha desde a sétima ou oitava série, finalmente estava se realizando. Ele então tocou o rosto de Annie, com delicadeza, quando se separaram, e pôde ver o brilho nos olhos dela. E ela pôde ver o quão corado ele estava. E no rosto de ambos estava estampado um semblante óbvio de que eram, sem dúvidas, apaixonados um pelo outro. De certa forma, sempre foram.
- Ti... é que, eu...
- Eu sei. Eu também.

xx Fim! :D

happy ending part 1

Annie chegou à frente da porta de Tiago e lá ficou, sem coragem pra mover o braço e tocar a campainha., torcendo a barra de seu casaco. Ironicamente, Tiago estava parado do outro lado da porta, sem coragem para sair. Ao mesmo tempo que ela toca a campainha, ele abre a porta. Encararam-se com um sorriso tolo durante algum tempo que pode ter sido de alguns segundos a vários minutos. Annie abriu a boca para falar alguma coisa, mas nada saiu além de um suspiro. Mas enfim tomou coragem.
- É, então, eu vim aqui pra...
- É... tô vendo. Então...
- É.
- Ahn... então as coisas não deram certo com meu irmão? - Tiago disse rispidamente, como se estivesse com algo azedo na boca. - Eu te disse que ele não prestava.
- Na verdade, ele é um cara legal. - Annie pensou em dizer isso, mas tudo o que saiu foi: - É, né...
- Hã, quer entrar?
- Ah, claro. - Annie disse,
torcendo a barra de seu casaco.
O clima estava péssimo. Estava óbvio que os dois tinham certos assuntos para resolver, mas nenhum dos dois tomava iniciativa. Tiago porque era tímido e não sabia dos sentimentos de Annie, e esta porque não queria ser impulsiva e não sabia dos sentimentos de Tiago. Entraram, sentaram-se nos grandes pufes na sala de televisão e ficaram encarando os próprios pés. E Annie torcendo a barra de seu casaco.
- Sabe - Tiago começou -,pra falar a verdade, eu não gosto da sua irmã.
Annie sentiu-se aliviada. Então ela não precisaria começar o assunto. Isso não precisava ser tão difícil.
- Ah, é? Então você não está apaixonado por ninguém no momento? E mentiu pra mim?
Tiago encarou Annie com raiva. Ele sabia o que ela estava fazendo. E não gostou disso.
- Eu não falei que gostava da sua irmã. Eu fiquei quieto. E eu não menti, eu gosto de alguém, sim.
- Então por que não me revela a identidade dessa sua amada?
- Por que você não me revela a identidade do SEU amado?
- Acho que você não se importa, porque está ocupado demais tentando esconder as coisas de mim!
- Ótimo, então, se é isso que você pensa!
- Ótimo!
Annie se levantou, torcendo a barra de seu casaco freneticamente, e começou a andar em passos largos até a porta. Mas parou antes de sair.
- Sabe, não sei por que eu me dei ao trabalho de vir até aqui. Foi uma total perda de tempo.
- Mas você veio. - Tiago olhou para Annie de forma intensa. - E você, por algum motivo, teve a necessidade de parar antes de sair e me dizer isso. Você quer que eu saiba que era importante para você vir aqui.

(continua)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

annie's love sick

Saí bufando da casa de Tiago e fui pra minha. Fui direto ao meu quarto e, como sempre, me joguei na cama, de barriga para cima, encarando o meu teto estrelado. Meu cabelo estava molhado, mas pelo menos trouxera um cheiro de chuva agradável pra dentro do quarto. O que exatamente aconteceu?

Marcelo não fizera nada. Tiago sempre me falou que ele era um vagabundo e coisas do tipo, mas ele não agiu dessa forma comigo. Na verdade, o que aconteceu foi que ele me disse que não se permitia gostar de mim daquele jeito. Eu saí andando, mas ele me parou no meio da rua. Comecei a gritar e gesticular, perguntando o porquê de todos os sinais que me foram enviados, o porquê da relutância, o porquê de tudo, mas ele continuava de braços cruzados, e vez ou outra olhava para a janela do quarto de Tiago, ou falava "não posso fazer isso". Então desisti.

Eu não sei mais o que estou sentindo. Confusão demais pra uma tarde só, nossa. No começo da tarde, achava que estava arranjando Tiago para minha irmã. Depois, pensei que eu quisesse Marcelo. Agora, não sei se quero que Tiago fique com minha irmã... ah.
E sempre, sempre quando eu mais precisava, e, claro, sempre muito convenientemente começava a tocar NeverShoutNever! no meu celular.

"Dear, I wrote you a song despite the fact, you did me wrong. And dear, I don't know what the hell is going out with you, but something ain't right..."

Era Tiago me ligando. Eu mesma coloquei essa música de toque. Ele é quem me mandou essa música, uns meses atrás, e eu até pensei que pudesse significar alguma coisa, mas não dei muita atenção. Meus sentimentos por Tiago são muito, muito instáveis. Eu não sei se o que eu sinto é um carinho muito grande ou se é amor. O fato é que meus namoros nunca duram mais de dois ou três meses, porque eu sempre me pego pensando, "será que o Tiago faria isso?". Nunca me imaginei ficando com ninguém além de Tiago, mas sempre atribuí isso ao fato de que crescemos juntos e eu realmente não consigo imaginá-lo fora de minha vida.

"...you tell me that you love, then you go and leave me, why do you do this to me? Baby, I'm lovesick..."

Meus sentimentos são confusos, mas também não é como se o Tiago já tivesse me dado claras insinuações de sentimentos mais profundos por mim. Eu teria captado. Ou não? Ou será que eu não captei nada? Tiago nunca teve muitas amigas, todas as minhas tentativas de apresentar alguém a ele foram falhas, e além de mim, ele conversa com minha irmã, a mãe dele e a professora de violão (cujo sexo na verdade é meio duvidoso)... Ele poderia gostar de mim. Isso explicaria os "não posso" de Marcelo e os olhares de relance pra janela do quarto de Tiago.
Uns meses atrás eu me peguei apaixonada por ele de fato, mas desencanei porque todas as minhas investidas falhavam de alguma forma. Não sei, é muito chato isso! Eu não sei o que fazer, se devo dar o primeiro passo, se espero, se escrevo na minha testa "me beije" ou alguma coisa do tipo...

"...I just can't sleep, just can't eat, can't do much of anything at all 'cause I'm sick and in love with you, dear."

Ao ouvir esse trecho da música, resolvi me olhar. Que deprimente. Jogada na cama ao som de um toque de celular, cabelo molhado ensopando o travesseiro, maquiagem borrada, olhando para o teto curtindo minha depressão.
Isso não tem absolutamente nada a ver comigo. Por mais confusa, frustrada, brava e ainda assim, feliz por ter percebido o que eu realmente sinto, decidi sair dali e ter uma conversa esclarecedora com Tiago. Não sei de onde eu tirei coragem e força suficiente para me levantar, mas o fiz. E andei a passos lentos, embaixo de chuva, até a porta dele.