quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

por uma vida musical

Enrolada no meu cobertor, tomando um chá e ouvindo clássicos de jazz, eu praguejo mentalmente sobre como eu queria ter nascido em outra época. Na época em que ainda se dançava, a música ainda era feita com instrumentos e que o mundo ainda girava devagar. Penso sobre como eu me encontro num momento descompassado e sem ritmo.
Eu queria que minha vida fosse perfeitamente compassada e doce feito uma valsa, segura, estável e feliz. Queria aprender a acertar os tempos quando minha vida alterna de um adagio para um vivace. Queria que minha vida fosse mais Debussy e menos Béla Bartók. Queria que os acontecimentos da minha vida fossem mais legatos do que stacattos. Queria que minha vida parasse de combinar tanto com músicas de Édith Piaf. Queria que as coisas boas tivessem a duração de uma breve, e não de uma semifusa.Queria me livrar dessas constantes barras de repetição, quero mudar de movimento, e quero viver menos no pianissimo e mais no fortissimo. E o mais importante, eu queria que minha vida fosse regida por um maestro profissional, experiente e expressivo, e não por uma menina tonta que não sabe nem o que quer almoçar no dia seguinte.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Day 5 — Your dreams

Oi, sonhos.
Vocês me dão muito trabalho, sabe... vocês vão longe, longe demais, tão longe a ponto de eu perdê-los de vista e desistir pra sempre de reencontrá-los... eu só queria que vocês se definissem, que ficassem aqui perto de mim e perto do chão, e que parassem de mudar tanto de tonalidade e intensidade. É difícil escolher o que eu quero pra mim, pra minha vida e pra minha carreira se vocês não se definem também, entendem.
É claro que o que eu mais queria era poder seguir todos, mas alguns de vocês estão tão altos que minhas tentativas de segui-los acabaria na cena ridícula de uma menina sonsa pulando em vão pra tentar alcançar algo que só se distancia dela. Miserável. Então, olhem, eu fico realmente triste e ter de lhes dizer isso, mas eu só posso ficar com um por vez; o resto de vocês deverá ficar numa prateleira, quietos, até que eu tenha capacidade e força suficientes para realizá-los. Eu sei, isso é triste, e eu, de todas as pessoas no mundo, sou a que mais quer realizar todos de uma vez, conseguir tudo de uma vez, com certo prazo, aliás. Mas era preciso - é preciso - tomar uma boa dose de Realidade de vez em quando (não sempre, não todos os dias, pois corre-se o risco de a vida se tornar chata, monótona e insuportável).
Alguns de vocês foram abandonados há tempos, alguns são novos, alguns nasceram num dia e morreram no dia seguinte, e são poucos que sobreviveram/resistiram a todos os tipos de provações e decepções que eu já vivi. Alguns de vocês são extremamente realistas, alguns são vergonhosamente materialistas, alguns são ridiculamente adolescentes e alguns são tão corajosos e ambiciosos que fazem-me refletir de onde eles saíram. Alguns de vocês são expectativas e planos que moldam uma futura Bruna, um futuro marido, uma futura família, uma futura casa, um futuro emprego... e alguns de vocês vão mais longe e querem que eu entre para a história, de alguma forma (boa)...
Mas o que eu realmente quero dizer é: obrigada por existirem. Obrigada por darem sentido à minha existência; sem vocês eu provavelmente estaria num poço de descrença e melancolia. Por mais que alguns de vocês me façam perceber o quão insignificante eu sou na esfera macro - mundial -, outros me mostram que a esfera micro também merece atenção, e que toda contribuição para a melhoria dessa esfera é válida. Muitos de vocês me fizeram questionar acerca dos meus valores e da minha  moral; e alguns dos meus momentos de maior amadurecimento são quando eu tenho de repensar meus sonhos e metas.
Novamente, obrigada. De verdade. E por favor, não me abandonem nunca, pois vocês fazem grande parte de quem eu sou.
Bruna.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

not too late

(pra ser lido com esta música de fundo: not too late - norah jones)

"Kira, você tá bem? eu ainda to acordado, quer que eu vá aí pra sua casa?"
"Saí de casa, Gui. Minha melhor amiga insistiu demais pra que eu saísse, então eu cedi."
Mensagem enviada.

Eram cinco e meia da manhã. Ela por sorte encontrou um café aberto, comprou um capuccino para viagem e saiu vagando pela rua. Loucura andar às cinco e meia da manhã sozinha na Nove de Julho, mas o tempo pedia pra que ela ficasse. Os primeiros raios de sol apareciam no horizonte, e as gotas de orvalho se misturavam com as gotas de chuva ralas que caíam incessantemente. Ela olhou para o termômetro mais próximo. Dezesseis graus. Mas a atmosfera, sem dúvida, era bonita. Poucos momentos do dia são tão bonitos quanto aquele que vêm logo antes do amanhecer.
Uma bebida quente pra derreter o coração gelado, congelado, e restaurar suas esperanças já derretidas. O que aconteceu? Mais uma decepção... quando se tem decepções demais você acaba se acostumando, mas ela dessa vez realmente achava que ia ser diferente.

"Você quer que eu vá aí ficar com você, Ki? To indo trabalhar daqui a pouco, posso sair mais cedo pra tomar café com você."
"Não, mana, não precisa. Estou bem."
Mensagem enviada.

Sim, todos eles sempre falam que são diferentes, que vão ser diferentes, e as mulheres que ainda têm alguma pureza, inocência e decência no coração sempre acreditam. Os efeitos de uma decepção se tornam ainda piores quando se é romântica. Aí parece que o seu mundo vai acabar. Sim, mudar é muito difícil, mas primeiramente é preciso assumir que a mudança é necessária. E ele a iludiu, a iludiu durante todo o tempo que a curta relação durou. Mas Kira, por mais que queira deixar transparecer uma força que com certeza existe dentro dela, é frágil. Não fraca, mas frágil. E, sabe, deveria ser um pecado decepcionar pessoas como Kira.

As nuvens foram se dissipando, embora ainda chovesse.

Mas ela continuou andando, respirando aquele ar gelado e eventualmente dando um gole em seu capuccino que não poderia estar mais doce. Ela sabia que eventualmente ia ficar enjoada da bebida justamente por ser doce demais. Será que esse era seu problema? Doçura em excesso? Sim, ela pensou, eu acho que devo começar a ser mais amarga, mais enjoada, vou confiar menos e esperar menos das pessoas, ah, vou. Mas, Kira, se fosse assim tão fácil mudar um caráter tão pueril. Ela começou a sentir frio. Desejou ter pego aquele casaco flanelado que estava pendurado atrás da porta, mas sua cabeça estava em outra órbita.

A chuva agora mal podia ser sentida.

O volume de carros começou a aumentar. Kira parou numa pracinha e sentou-se num dos bancos. Estava molhado, mas ela não ligou. Ela ainda sentia como se seu coração tivesse diminuído de tamanho, como se a capacidade volumétrica do seus pulmões tivesse diminuído, estava difícil de respirar, estava difícil conciliar a respiração com as tentativas falhas de reprimir o choro... é claro que na sua cabeça a única coisa que acontecia era uma discussão entre sua consciência e sua vontade. E é claro que a consciência estava ganhando, e dando uma lição de moral na vontade, e dizendo a Kira que ela precisava deixar de ser estúpida, e que ela agora tinha mais é que levantar a cabeça. A cada gole de café a discussão ia ficando menos intensa, seus nervos começaram a se acalmar. Terminar um relacionamento às quatro da manhã por skype não é fácil, ainda mais quando não foi você quem terminou. Ah, Kira, mas se todos fossem igual a você, o mundo seria melhor.

O sol começou a aparecer... o ambiente estava confuso: os raios de sol com certeza mostravam que queriam aparecer e limpar o céu, mas a chuva persistia em ficar ali, e essa bonita indecisão durou tempo suficiente para Kira terminar de tomar seu café.

Ela estava se levantando quando viu seu melhor amigo, Guilherme, aproximando-se dela.
- Eu queria te ver, aí recebi sua mensagem falando que você não estava em casa, então vim direto pra cá.
- Como você sabia que eu estaria aqui?
- Porque seu café preferido é a alguns quarteirões daqui, e você adora beber café quando está triste. E você me trouxe aqui quando a Aline terminou comigo, também.
Pela primeira vez em alguns dias, Kira esboçou um sorriso.
- Me dá um abraço, Ki.

A chuva parou por insistência dos raios de sol, que finalmente saíram do horizonte e agora iluminavam a cena com força.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Day 27 — The friendliest person you knew for only one day

Não sei como começar esta carta. Eu nem sei o seu nome.
Não sei o seu nome, não sei onde você nasceu, o nome dos seus pais, se você tem irmãos, se você já voltou para o Brasil, se sua vida deu certo, se você está feliz ou se você sequer lembra de mim.
Só sei que nosso encontro certamente me marcou. E olha que foi uma grande coincidência, pois eu não devia ter sentado do seu lado, mas como eu não tinha onde sentar, colocaram-me lá. E tudo bem que grande parte da viagem nós nos ignoramos, mas ao ver aquele aviãozinho se aproximando do continente na tela - e você cedendo aos meus pedidos e finalmente abrindo a janelinha - acho que uma luz de animação se acendeu tanto dentro de mim quanto dentro de você.
Lembro-me que você devia ter entre vinte e cinco e trinta anos, e que ia para Londres a trabalho e estudo, ficar seis meses. Lembro-me muito bem do brilho fugaz nos seus olhos que traduzia o medo, a excitação, a ansiedade e o terror de estar vivenciando aquilo. Você me disse que nunca tinha ido a Londres e que nunca tinha tido a oportunidade de conversar em inglês com ninguém, mas que a vida era assim, ter de encarar as experiências com os olhos e ouvidos atentos e o coração e a mente abertos.
Lembro-me de quando você abriu a janelinha e ficou olhando lá para baixo. Após alguns momentos de intensa observação, você virou e me disse "lindo, né?". E esse "lindo, né?" deve ter sido um dos únicos "lindo, né?" sinceros que eu já ouvi na minha vida, porque dava pra sentir na sua voz que você realmente estava maravilhado, deslumbrado por aquela imensidão de mar e costa, que aquilo era realmente novo e que você estava realmente aproveitando a viagem em que você ia embarcar e que nem tinha começado ainda. Pois esse "lindo, né?" não é um "lindo, né?" que se fala quando se vê um sapato bonito, ou óculos de sol bonito, ou um rapaz bonito; é um "lindo, né?" que se diz quando não se consegue achar outras palavras pra expressar o que se está sentindo então recorre-se para frases populares e encarrega-se a voz de dar todo o sentimentalismo contido naquilo. A voz, o olhar, e a respiração contida antes de dizê-lo. Devo dizer, até aquele momento eu não tinha tido um momento "lindo, né?", mas passei a tê-los frequentemente. Passei a admirar mais a beleza das coisas e a dar mais valor para o que eu tinha e tenho. Afinal, eu estava indo para a Inglaterra pela primeira vez com 15 anos, e aquele moço só conseguiu fazê-lo depois de formado e estando trabalhando.
O avião pousou. Todos começaram a se levantar para pegar suas bagagens de mão. Você me ajudou a pegar a minha (que por sinal devia estar no limite de peso) e quando fomos liberados a sair do avião, olhei para você e disse sinceramente "boa estadia, espero que tudo dê certo", e você respondeu "boa viagem, aproveite".
E a última vez que eu o vi foi andando de um lado para o outro no aeroporto olhando freneticamente para seu celular, e quando estava no avião para voltar para o Brasil me peguei pensando onde você estava naquele momento.
Querido estranho, obrigada pelas 12 horas de vôo que passamos juntos e por me fazer rever meus valores do que é lindo e do que precisa ser realmente valorizado. Acho que o mundo ficou mais bonito depois do seu comentário a respeito da costa de Portugal e do mar. Não tenho palavras para lhe agradecer suficientemente, pois se teve algo que tornou minha estadia em Swanage inesquecível foi o fato de eu ter parado para apreciar o pôr-do-sol de cada dia e o mar indo e voltando. E todo dia eu me pegava pensando "lindo, né?".
Com carinho, 
A menina que sentou ao seu lado  no vôo de ida para Londres no começo de Julho de 2010.

domingo, 1 de janeiro de 2012

day 30: your reflection in the mirror

Como posso começar?

Cara Bruna,

  Eu tenho muitas coisas para falar-lhe. Não sei por qual começar. Primeiramente, da última vez que a vi você parecia tão abatida, tão desesperançosa, que com muito esforço contive meu ímpeto de abraçá-la. Eu perguntaria o que aconteceu, mas sei que você simplesmente responderia "a vida; a vida é que aconteceu".
  Sei que temos muitos assuntos mal-resolvidos, grande parte de nossos problemas caíram em oblívio, o que permaneceu foi aquele sorriso forçado e a frase dita em um semi-sussurro "está tudo bem". Sei bem que você - assim como eu - é uma criatura absurdamente obstinada, soberba, mas isso tem limite. Veja, todos temos problemas e é perfeitamente aceitável - e saudável - assumi-los e tomar uma atitude para resolvê-los.       Sim, eu sei que seria infinitamente mais fácil esconder-se por trás de uma máscara sociofóbica e antissocial, mas no fundo você é uma alma em agonia desmanchando-se no frio suplicando para que alguém a cubra com seu cobertor de afeto e atenção. Também sei que é mais fácil colocar a culpa na sociedade, nos valores sujos e corrompidos, no vazio niilista e por vezes dadaísta presente nas pessoas, no sistema massacrante capitalista, na mídia e no Jornal Nacional que desinforma... mas este é o comportamento padrão do ser humano: não admitir seus erros e colocar a culpa em outro alguém. Você acha que age muito diferentemente? Pois não age. Em vez de encarar a dor da difícil tentativa (pois ela pode levar a uma mais dolorosa ainda rejeição), você se esconde na conveniente indiferença. O quão patético é isso, Bruna?!
  Olha, perdão. Eu sei que não sou a pessoa mais amável do mundo, também tenho minhas preguiças sociais, também tenho alergia a futilidade e a ignorância, mas pra isso existe homeopatia. A homeopatia da internet, da psicoterapia, dos professores. Algumas horas com um desses pode servir de tratamento por até uma semana, acredite. E quanto ao borbulhar de ideias acontecendo na sua cabecinha e que você insiste em condensar e negar... deixe-o evaporar. Deixe-o borbulhar, esparramar-se no chão. É uma ótima prevenção contra o inevitável enlouquecimento. Eu tenho dó de você, mas não um dó ruim e sarcástico - um dó sincero, daqueles que fazem todo o ar sair dos seus pulmões só de você pensar no sofrimento da pessoa. E eu realmente quero que você melhore, que você mude, que você consiga tornar esse 2012 pelo menos um pouco melhor do que os dois anos que passaram, porque olha... dentre todas as pessoas que eu conheço, você é uma das poucas que merece, que realmente merece pelo menos um vislumbre do que significa ser feliz. E não digo isso porque, bem, você é meu reflexo, mas porque eu sei de tudo por que você passou, o quanto você é forte, e, bem, isso fez-me gostar bastante de você. Ao mesmo tempo que a acho incrivelmente estúpida, miserável e infeliz por você ser uma peça de quebra-cabeça que não sei encaixa em lugar nenhum, admiro-a justamente por isso.
  Então, enfim...
  Por favor. Mais surrealismo e menos barroco na sua vida.
Com todo o respeito,
Bruna S.F.

30 days letter project

Pra me animar a voltar a escrever, decidi fazer isto aqui em Janeiro:


30 days letter project
Day 1 — Your Best Friend
Day 2 — Your Crush
Day 3 — Your parents
Day 4 — Your sibling (or closest relative)
Day 5 — Your dreams
Day 6 — A stranger
Day 7 — Your Ex-boyfriend/girlfriend/love/crush
Day 8 — Your favorite internet friend
Day 9 — Someone you wish you could meet
Day 10 — Someone you don’t talk to as much as you’d like to
Day 11 — A Deceased person you wish you could talk to
Day 12 — The person you hate most/caused you a lot of pain
Day 13 — Someone you wish could forgive you
Day 14 — Someone you’ve drifted away from
Day 15 — The person you miss the most
Day 16 — Someone that’s not in your state/country
Day 17 — Someone from your childhood
Day 18 — The person that you wish you could be
Day 19 — Someone that pesters your mind—good or bad
Day 20 — The one that broke your heart the hardest
Day 21 — Someone you judged by their first impression
Day 22 — Someone you want to give a second chance to
Day 23 — The last person you kissed
Day 24 — The person that gave you your favorite memory
Day 25 — The person you know that is going through the worst of times
Day 26 — The last person you made a pinky promise to
Day 27 — The friendliest person you knew for only one day
Day 28 — Someone that changed your life
Day 29 — The person that you want to tell everything to, but too afraid to
Day 30 — Your reflection in the mirror


...mas não necessariamente nessa ordem.