terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

loucura

- Ô Felipe...
- Que é?
- O que é ser louco?
- Que pergunta é essa, Lúcia? Louco é louco, ué. É quem não bate bem da cabeça.
- Tá, mas... o que é "não bater bem da cabeça"?
- Ah, menina, sei lá... é quando a pessoa acha que vive num mundo em que ela não vive. Ela vive uma realidade alternativa, que ela mesma montou.
- Mas então ela não sabe que ela é louca.
- É, acho que não.
- Então você pode muito bem ser louco, porque você não se considera louco.
- Ah Lucinha, não é tão simples assim...
- Como não? Se eu quiser ser Édith Piaf, eu vou colocar um vestido preto e vou ser feliz assim. E vou acreditar que sou uma cantora francesa. E você não vai acreditar nem mim, mas quem é você pra dizer que eu NÃO sou Édith Piaf?
- Mas...
- Se o cara que você diz que é louco está feliz, então por que ele é chamado de louco? Loucura não é saber que se é infeliz e continuar insistindo nisso? Não querer mudar de vida e conformar-se com a realidade em que se vive?
- Ah Lucinha, você tá pensando muito filosoficamente pro meu gosto...
- Pensa bem, Fê! Se vivemos em duas realidades diferentes, como eu posso opinar na sua? Quero dizer, é lógico que sua realidade vai parecer errada pra mim, e vice-versa, mas... entende?
- É, sabe, acho que faz sentido... são formas diferentes de se ver o mundo...
- Na minha opinião, louco é aquele que se sujeita à realidade dos outros e que não vive a realidade em que acredita viver. Entende?
- Mas então, Lucinha, como é possível viver em sintonia com qualquer pessoa?
- Enxergando e aceitando a loucura um do outro... mas principalmente, inserindo o outro na sua própria realidade...
- Certo... mas como é possível definir loucura sem se definir a razão? É possível uma pessoa ser inteiramente louca?
- Não, eu vejo a coisa de forma Machadiana... de que as pessoas têm um núcleo de loucura... alguns são maiores, outros menores. Então todos temos nossos momentos de... sanidade, por assim dizer, e é o que nos permite viver em sociedade. Expressamos nossa loucura quando fazemos o que queremos fazer.
- Lucinha...
- Que foi?
- Você tá muito louca.