quarta-feira, 18 de abril de 2012

A Náusea

Tema: Liberdade do ser e liberdade de ser: a responsabilidade de fazer escolhas


       Solidão, escolha e liberdade formam um dos tripés da existência. O homem percebe-se solitário ao dar-se conta de que deve fazer suas escolhas sozinho, justamente por ter liberdade de fazê-lo, e esse processo de percepção e de escolha gera sofrimento. A liberdade é angustiante.
     Para Sartre, o homem está condenado a ser livre - e nós o somos, forçosamente, mesmo que essa liberdade seja um tanto limitada por nosso momento histórico, por nosso meio e por nossa cultura. Isso devido ao fato de não nascermos prontos, com a essência definida (pois se isso fosse verdade, não teríamos responsabilidade por nossos atos). Ou seja, a existência precede a essência: primeiro vivemos para depois nos constituirmos como seres. Assim, nossas escolhas, e suas consequências, são nossa responsabilidade, justamente por termos tido a liberdade (novamente, mesmo que limitada) ao fazê-las - e isso proporciona a angústia, ou a náusea, como descreve em seu livro homônimo aquele existencialista.
     Se temos liberdade de escolha, deparamo-nos com a angústia de fazê-la. O processo incomoda não pela escolha em si, mas por suas consequências. Um exemplo disso é a opção pelo curso e pela faculdade: os jovens que, indecisos, escolhem suas carreiras orientados pelos testes vocacionais, podem culpar tais testes caso ocorra decepção pessoal.
     A liberdade do ser, além de levar à liberdade de escolha, também nos dá a liberdade de ser (o que quisermos). Porém, a nossa liberdade encontra uma barreira quando nos deparamos com o fato de que o outro também a possui - assim, se somos livres para, por exemplo, vestirmo-nos a nosso gosto, o outro também é livre para condenar nossas atitudes. Esse choque de ideias, intrínseco à vida em sociedade, gera angústia, porque temos a consciência de que ele é fruto da escolha que foi tomada por nós em primeiro lugar (de se ser o que se quer).
     Em suma: a liberdade do ser gera ambas, a liberdade de escolha e a liberdade de ser. As últimas são angustiantes por nos fazerem encarar as responsabilidades e as consequências de nossos atos e por nos mostrarem que somos quem comanda nossas vidas. Mas a liberdade é angustiante, principalmente, pelo fato de nos mostrar que estamos sozinhos em nossas escolhas - condenados à náusea filha da liberdade.