terça-feira, 29 de maio de 2012

tic tac

"This is your life, and it's ending one minute at a time"

Noutro dia, resolvi reparar em como eu estava andando. Eu estava no shopping e olhando para meu próprio reflexo nas várias vitrines. Eu via uma menina andando a esmo, como quem possui um destino mas não tem direção, como quem tem necessidade mas não tem vontade. E senti pena. E eu odeio sentir pena de mim mesma. Mas por mais que eu odeie, eu sinto, forçosamente.

Olhei no relógio.

E, de repente, todo o lirismo cessou.

E de repente tudo ficou tão lógico, claro, óbvio, dissertativo, tão irritante, tenho um destino tão claro, definido e fatídico que, nesse ano, viver tem sido sem graça.
Porque eu acordo, alimento-me, estudo, estudo, estudo e estudo mais um pouco, então eu me alimento e durmo. E minha vida se resume a isso de segunda a sexta-feira. E isso lentamente vai empurrando pro lado toda a tortice que é tão intrínseca a mim.
Eu não tenho mais tempo pra parar... e parar. E pensar. Não tenho mais tempo para sentar e ler um livro, e saboreá-lo, e tirar dele toda a sua essência e espalhá-la por toda a minha essência, não tenho mais tempo de assimilar conteúdos e pensamentos, porque eu simplesmente não mais os tenho.
Viver, para mim, tem-se limitado à pura atividade de sobreviver e resistir, não mais existo.
E eu estou cansada, estou muito cansada de ficar na internet, navegando de forma letárgica, só comentando o que as pessoas escrevem ou entrando em sites de humor.

Sou só mais uma maquininha de decorar fórmulas necessárias para passar no vestibular.

E eu estou cansada de viver minha vida em função de vestibular, e de ler livros em função do vestibular, e de estudar em função do vestibular, e ler notícias de jornal em função do vestibular. Minha vida NÃO É o vestibular. Eu EXISTO. Eu PENSO e não aguento mais submeter minha vida a um sistema de seleção tão furado e atrasado como o vestibular.

E eu estava atrasada para minha adorável aula de redação. Para o vestibular.