Era uma vez um pequeno urso.
Nossa história começa com a cena de nosso pequeno urso saindo do bosque chamado Solidão.
Ele não sabia muito bem como havia parado naquele bosque - na verdade, desde que se entendia por urso ele havia morado lá. Talvez tivesse sido concebido lá. Não sabia ao certo. Mas agora não fazia diferença, porque ele decidiu sair de lá.
Como o nome pressupõe, era um lugar muito difícil de se sair. Muito escuro e confuso. Mas um dia ele olhou pra cima e viu o Sol. Depois viu a Lua. E passou a se guiar por essa luz. E conseguiu sair.
Andou por muitos lugares. Conheceu muitos campos a céu aberto, conheceu bosques menores, andou por muitos lugares bonitos, - mas agora guiado pelo seu instinto de aventura, não mais pela luz.
Um dia se cansou e parou num bosque qualquer, sem pretensão de ficar. Passou o dia, passou a noite. Acabou gostando do lugar. Era muito bonito - passava uma sensação de tranquilidade, havia comida, água em abundância e fazia tanto sol! Era aconchegante. Alguma coisa ali parecia certa. Enfim, havia encontrado um lugar em que se fixar. Enfim! Um lugar pra chamar de "casa".
Então, assim como fez para sair do bosque Solidão, o pequeno urso olhou pra cima. E lá estava o sol. Porém, agora ele não estava lá para guiá-lo para fora do lugar - ele estava ali mostrando que aquele era o lugar certo. E como aquele sol o fazia se sentir bem! Aquele calor, como ele nunca havia sentido antes - pois o bosque Solidão era frio, úmido, desconfortável. O sol reconfortava. O sol abraçava. Era tudo de que ele precisava - de um lugar bonito, que o pudesse sustentar. E ainda tinha esse sol!
Tudo estava indo bem. Até que, um dia, choveu.
O sol continuava lá, mas a chuva não parava. Nunca. Então por mais que o sol trouxesse calor e serenidade para o pequeno urso, a chuva o fazia sentir frio. O sol esquentava, mas não o suficiente para que a chuva não pudesse ser sentida; a chuva era gelada, mas não o suficiente para que o fizesse querer sair do sol. Ele não sabia o que fazer. Não queria se esconder do sol; era a primeira vez em tanto tempo - ou talvez fosse a primeira vez absoluta - que conseguia sentir esse calor de forma tão intensa. Mas a chuva... a chuva estava sempre lá. Às vezes mais fina; outras vezes, torrencial - mas ela marcava presença e não se deixava esquecer.
O pequeno urso sentia sua cabeça doer. Ele nunca antes tivera que tomar uma decisão assim.
Tentou um tempo ficar exposto ao sol - e à chuva. Mas era difícil... ele precisava de mais calor.
Tentou um tempo ficar dentro da água, para que a chuva não fizesse tanta diferença. Mas era difícil... fazia muito frio.
Tentou um tempo entrar no bosque e ficar protegido. Mas ele então sentia só a chuva, e não o sol. E ele definitivamente precisava de Sol.
Na busca por alternativas, o pequeno urso foi andando pelo bosque. Viu árvores com ninhos de pássaros, viu tocas embaixo da terra, viu cavernas. Mas nada parecia satisfazê-lo. Até que viu uma choupana abandonada.
Ele entrou lá. Lá dentro não entrava muita luz - mas não chovia. Lá dentro não era muito quente - mas também não era frio. Mas havia um pequeno detalhe, que fez o pequeno urso lá permanecer: havia uma janela. E essa janela permitia que nosso urso observasse lá fora. Ele podia ver a chuva caindo, ele podia ver o sol brilhando e continuava assim, indiretamente, sentindo seus efeitos. Mas com alguma proteção.
E, no final das contas, talvez isso realmente fosse melhor - acompanhar, de longe. Sentir, de longe. Pelo menos até que a chuva passasse. Afinal, o sol sempre estaria ali.