livros e filmes

Livros


Eis uma lista, que pretendo constantemente atualizar, dos meus livros preferidos.

Introspectivos: Lobo da Estepe (Hermann Hesse), Dibs - em busca de si mesmo (Virginia M. Axline), A Cura de Schopenhauer (Irvin Yalom), A Náusea (Sartre), todos da Clarice Lispector, os Sofrimentos do Jorvem Werther (Goethe), The Picture of Dorian Gray (Oscar Wilde), São Bernardo (Graciliano Ramos)O Duplo e Crime e Castigo (Dostoiévski)
Sociais: 1984 e Animal Farm (George Orwell), Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley), Como me Tornei Estúpido (Martin Page),  Persépolis (Marjane Satrapi), a Rosa do Povo (Drummond), O Alienista (Machado de Assis), Diretas Já! (Henfil)
Outros: O Grande Gastby (F. Scott Fitzgerald), Orgulho e Preconceito (Jane Austen), qualquer obra de Luis Fernando Veríssimo, O Horla e outros contos (Guy de Maupassant), O Mundo de Sofia (Jostein Gaarder), Justiça - o que é fazer a coisa certa (Michael Sandel),  As Veias Abertas da América Latina (Eduardo Galeano), O Que é isso, Companheiro? (Fernando Gabeira), Harry Potter (J. K. Rowling - sim, tem bastante conteúdo se você fizer as análises corretas), Contos e Poemas para Crianças Extremamente Inteligentes de Todas as Idades (coletânea feita por Harold Bloom, de diversos autores - meu preferido é o volume 4, Inverno), The Importance of Being Eearnest (Oscar Wilde - leiam em inglês, por favor!).

Vou escrever aqui um pouco sobre os meus favoritos, aos poucos!

São Bernado (Graciliano Ramos): Sim! Eu li e gostei. Sim, é um desses livros que eu não escolheria ler por entretenimento, li por obrigação, mas no final das contas - e do ano - agradeci mentalmente a meu professor por ter-nos feito ler tal livro. É a história do fracasso existencial de Paulo Honório. O livro é narrado pelo mesmo, que conta a trajetória de sua vida, do enriquecimento e ascensão social à frustração existencial. Com o intuito de somente enriquecer e tornar-se grande proprietário de terras, o narrador, que é a definição do homem capitalista (e logo de cara já se vê a crítica social a esse tipo), escolheu abrir mão de seu caráter, anular seu ser, abandonar sua capacidade afetiva - limitando, assim, sua própria existência. A forma como escreve é reflexo de sua personalidade: poucas palavras, pouco rebuscamento, direto ao ponto. A narrativa,  no começo, é lenta e monótona (pois é composta basicamente pela construção da vida do personagem), mas após a quebra feita pelo capítulo 19 o tempo torna-se predominantemente psicológico, e o narrador passa a questionar sua existência - questionamento desencadeado principalmente pela convivência com Madalena, seu oposto em tantos aspectos. É um livro amargo que deve ser lido com calma e paciência, e que me deixou com o coração na mão quando terminei de ler. Recomendo para aqueles que querem ler algo diferente e sair da sua zona de conforto. E prefiro São Bernardo a Vidas Secas.


Orgulho e Preconceito (Jane Austen): Ah, não sei por onde começar, meu amor por esse livro é tão grande... Primeiramente, não é recomendável para quem não aprecia a arte da prolixidade. Apesar de os diálogos, reflexões e solilóquios serem todos ricos em conteúdo, faltam pontos finais e, às vezes, encontra-se dificuldade em extrair a ideia principal do parágrafo. Não preciso dizer que é infinitamente melhor que o filme (todo livro o é), e a escrita de Jane Austen é baseada em análises psicológicas e muita ironia acerca das personagens, e sua visão feminista e crítica são características marcantes de seu estilo à frente de seu tempo. Em "Orgulho e Preconceito", Austen critica (adoro críticas, percebe-se) o modelo de educação feminino da época, os costumes (fúteis e superficiais), o modelo de casamento, e ao criticar a sociedade, dá ênfase na questão do preconceito entre classes (e entre sexos). Apesar de inovadora, a obra tem final previsível, e se analisada de forma enxuta, é uma típica obra romântica. O diferencial são as críticas e a forma como as relações pessoas são analisadas e exploradas. O crescimento, amadurecimento e reflexões das personagens são, na maior parte do tempo, o foco, tornando a obra muito psicológica e introspectiva. Altamente recomendável para garotas que gostam de romance mas que ao mesmo tempo procuram por conteúdo. 


The Picture of Dorian Gray (Oscar Wilde): Esse livro resolvi ler em inglês. Minha primeira observação é que é impressionante como a língua portuguesa é mais rica do que muitas outras. Um estudante de nível intermediário a avançado consegue ler sem maiores dificuldades uma obra inglesa do século XVIII, mas fazer o mesmo com português é complicado, não só pelo vocabulário, mas pela linguagem de uma forma geral - os termos, as flexões verbais. Mas enfim. Eu gostei bastante desse livro. Há diálogos muito ricos e cheios de opinião, muitas máximas/aforismos, e Wilde expõe uma visão muito crítica da alta sociedade burguesa inglesa de sua época. Dizer que toda arte é inútil e explicar o desgosto da sociedade pelas escola literária Realista logo no prefácio do livro é uma forma de preparar o leitor para toda a ideologia lá contida. Com reflexões sobre beleza, intelecto, valores e estilos de vida, Wilde nos bombardeia, através de um personagem especificamente, com ideias pragmáticas e objetivas, questionando a essência de tudo e denunciando a hipócrita sociedade inglesa. Não é a obra mais representativa de Wilde, mas é seu único romance, cuja leitura deve ser feita tendo-se a consciência de que o narrador é altamente irônico. Gostei MUITO.


Como me Tornei Estúpido (Martin Page): Livro indispensável para amantes de filosofia, psicologia e, de forma especial, sociologia. Trata-se da história de Antoine, jovem infeliz por ser fadado a ser demasiadamente inteligente. O livro deixa bem claro que ignorance is bless, definitivamente. Antoine sente que ser inteligente é um fardo, porque todo inteligente sabe que o é - enquanto parvos não convivem com a dor de serem parvos, pois não o sabem. Inteligência implica em noção, consciência, curiosidade, engajamento; logo, é infinitamente mais fácil levar uma vida oca e insignificante no sentido literal da palavra. Tenta matar-se; tornar-se alcoólatra; não resolveu seus problemas. Antoine submete-se ao experimento de se adequar à sociedade, na tentativa de dar um fim à sua dor: escolhe um emprego comum que não exija tanto de seu intelecto, experimenta uma refeição do McDonald's, começa a comprar roupas da moda e a valorizar excessivamente bens materiais, ou seja, Antoine capitaliza-se. Encontra-se com o mundo fascinante do sucesso - que implica em vários outros sucessos -, da superficialidade, da vaidade, da competitividade. Antoine parece limpar de si o intelectual que ali já existiu. Livro significavelmente importante como bagagem cultural numa discussão acerca da inversão de valores da atual sociedade. Curto, pode ser lido rapidamente, porém, por cada parágrafo obter quantidades absurdas de conteúdo, convém que a leitura seja efetuada sem pressa. 


Persépolis (Marjane Satrapi): Praticamente um livro de história, e uma história à qual geralmente não temos acesso, não aprendemos ou não damos atenção: a história do Irã, da Pérsia, da Revolução Fundamentalista em todo o seu contexto, da guerra Irã x Iraque (todo o plano de fundo norteamericano e o início da propagação da ideia de um "eixo do mal"), de como viviam os iranianos, toda a imposição cultural e a radical transformação após 1979 (até as crianças foram afetadas, sendo então obrigadas a estudarem em escolas religiosas e não mais laicas). Tudo do ponto de vista de uma mulher à frente do seu tempo e da sua cultura, politicamente engajada, vinda de uma família de intelectuais que saíam às ruas para protestar - mulher que muitas vezes viu-se dividida entre o que queria ser e o que devia ser. Tendo como seu plano de fundo todo o caos sócio-político-econômico em que o país se encontrava, Marjane explora âmbitos muito mais complexos do que apenas uma cultura ou uma religião: ela, na adolescência, atingiu o ápice de sua crise existencial. Por ser diferente, culta e engajada, Marjane não aceitava a submissão e alienação de seu povo a um regime absurdo. Devo renunciar à minha cultura, aos meus Estado, governo, país, costumes, amigos? Devo aceitar o regime extremo que me é imposto, ou devo rebelar-me e lutar pela liberdade? Será que só eu me importo? Quem sou eu - uma iraniana no ocidente ou uma ocidentalizada no Irã? Como essas duas partes de mim podem coexistir, sem uma anular a outra?. Discussões complexas e profundas, que atingem e prendem o leitor por sua forma (quadrinhos) e leveza de linguagem. 


A Revolução dos Bichos (George Orwell): Ah, é o clássico pra se discutir ideologias políticas. O livro particularmente discute sobre uma possibilidade de doutrina socialista, mas que depois de um golpe torna-se uma ditadura - os personagens e o corpo da história em si são metáforas para os próprios personagens da história do socialismo e da Revolução Russa (1917) (o livro é incrivelmente mais interessante quando se tem  um conhecimento mínimo de personagens participantes da revolução). Cada animal, na verdade, representa um tipo de indivíduo. Além de a história ser muito interessante e bem elaborada, aborda a relação do Estado com seus  cidadãos, as diferenças entre idealistas e pragmáticos, as formas de dominação de um povo (violência, manipulação de informações, discursos de tom panfletário e grandiloquente para disfarçar o conteúdo abusivo e hipócrita), a própria manipulação (o que é feito aos rebeldes, qual a recompensa aos conformistas), o plágio de ideias antes ignoradas, corrupção, falsidade ideológica, e, juntando todos esses aspectos, os métodos de que o Estado dispõe para realizar suas expectativas (um porta-voz carismático, a eliminação de fontes e fatos históricos que comprovem a má-fé do atual governo, promessas e mais promessas de uma mudança de rumo econômico e social...). E além da interpretação sociológica, há também  a possibilidade de interpretação psicológica da sequência dos fatos e dos personagens. O fato de cada animal representar uma massa social é extremamente interessante - as falas, opiniões e atitudes dos animais mostram e definem seu caráter, e compõem tipos de personalidade comuns e bem presentes na sociedade. É do mesmo genial escritor de 1984, é de uma leitura rápida (li em uma noite) e por ser de uma linguagem mais fácil a leitura torna-se bastante agradável. Indispensável e insubstituível! 


O Alienista (Machado de Assis): Não é exatamente um livro, mas merecia seu lugar aqui. A história nos leva à reflexão sobre nosso conceito de insanidade e sanidade. Se uma pessoa - uma única pessoa - sã vive numa área onde coexiste apenas com pessoas loucas, então essa pessoa sã é que é a louca. Certo? A loucura não passa de um ponto de vista - do seu ponto de vista. O livro levanta a discussão também, se analisado corretamente, sobre a definição de loucura na nossa sociedade. Antigamente, uma pessoa admirável era o sujeito moral de Kant. Era uma pessoa com excelência moral e intelectual. Sem falhas no caráter. Mas atualmente cada vez mais as gerações novas crescem convivendo com exemplos de pessoas com falhas no caráter e com este completamente desintegrado - mas como é "normal", é tido como um exemplo. Nesse ponto entra também a função do tempo como agente modificador - como a passagem do tempo pode interferir na preservação ou extinção de certos valores. No livro O Alienista, o personagem principal - um médico - lança-se ao desafio de classificar as várias doenças mentais (que ele divide de acordo com a grandeza da falha moral do indivíduo). Com o passar do tempo, todos os habitantes da cidade acabam sendo classificados como loucos! Fazendo um paralelo com a nossa realidade, não vivemos num mundo em que as pessoas aspiram muito mais ao sucesso material do que ao sucesso  intelectual? Logo, ninguém se dedicaria à atividade da desenvoltura da própria integridade e todos teriam algum desvio de caráter, seja esse grande ou pequeno. Loooogo, todos seriam loucos! Interessante reflexão, não? Paro por aqui, novamente, para não lançar mais spoilers! Apesar de ser de leitura bem rápida - diferente dos outros romances notáveis de Machado, dá origem a reflexões bem complexas. 


Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley): provavelmente, o meu número um. Foi publicado em 1932, mas grande parte da tecnologia descrita nele ainda é fictícia (o que é muito raro de se acontecer, vide todos os avanços nas ciências + 3ª Revolução). Além da ótima linguagem, ótima narração, ótimo enredo, ótima história, ótimo tudo; a temática tem grande fundo filosófico. O livro narra um mundo, no futuro, em que as pessoas são produzidas em laboratórios - logo, todas as suas características são definidas previamente e seu futuro é totalmente traçado no momento em que são criadas; não há a variável "ambiente" na formação das pessoas. A sociedade é literalmente dividida em castas de nível intelectual e as pessoas são programadas para serem conformadas com sua própria casta. Isso não é completamente atual? Nós, atualmente, não somos massificados e manipulados para nos conformarmos com nossa situação? Outra coisa, o livro traz à tona a discussão polêmica sobre engenharia genética. Devemos ou não alterar no rumo que a natureza toma no momento em que o espermatozoide encontra o óvulo? Mesmo que seja para o bem da ciência e etc., como é que a bioética se posiciona? No livro destaca-se o personagem Bernard Marx (sim, é uma referência ao Marx), que desde o começo questiona-se acerca do sistema e dos valores culturais que lhe são impostos. Ele, Lenina (referência a Lênin) e John, o Selvagem, são os protagonistas do livro. Eu considero o livro inteiro como uma alegoria; ele propõe discussões filosóficas densíssimas! Ótimo para quem gosta de livros no estilo de George Orwell. Bom, se eu falar mais, vou começar a lançar vários spoilers aqui. =) 


Filmes


Como muita gente já me pediu pelo formspring, aqui vai uma lista de must-watch movies:

Filmes Nacionais: Cazuza; Os Desafinados; O Que é Isso, Companheiro? (baseado no livro de Gabeira, muito bom); O Redentor; As Melhores Coisas do Mundo; Divã.
Filmes para pensar: Mindwalk; Good Will Hunting; Fight Club; Inception; Matrix (o primeiro, os outros são péssimos); Cold Souls; Dead Poets Society; Forrest Gump; Black Swan; Being John Malkovich; Eternal Sunshine of the Spotless Mind; Shutter Island
Relação Estado/Indivíduo: V for Vendetta; Die Welle; Clockwork Orange; Diarios de Motocicleta; 12 Angry Men; Runaway Jury, qualquer filme de Michael Moore.
Introspectivos: The Hours, Chocolat, Nuovo Cinema Paradiso, Easy A, Pride and Prejudice, The Beaver, Midnight in Paris, It's Kind of a Funny Story, Dan in Real Life, Moonrise Kingdom.
Comédias Românticas com conteúdo: 10 Things I Hate About You (é baseada em Shakespeare); He's Just Not That Into You; The Ugly Truth; When Harry met Sally, Ruby Sparks
Musicais: Phantom Of the Opera; Moulin Rouge; Hair; Sweeney Todd; Grease; Singing in the Rain.
Representações da realidade: Mad City, Munique; Slumdog Millionaire; Schindler's List; The Pianist; Inglorious Basterds; The Godfather; Juno; Hotel Ruanda.
Animações: todas e qualquer uma de Tim Burton; Up; Coraline.

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