Mostrando postagens com marcador contradições. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador contradições. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 28 de março de 2012

Solidão: perdas ou ganhos?

Este é uma dissertação que fiz na prova de redação do Einstein e é um dos textos meus de que eu mais gostei. Resolvi compartilhá-lo com vocês porque sei lá.

        Solidão é um termo complexo. Para uns, é sinônimo de infelicidade; para outros, é sinônimo de paz e liberdade - para mim, solidão é o estado indescritível de se estar solitário mas não sozinho, e de não aguentar mais ouvir os próprios pensamentos e necessitar dos pensamentos de outra pessoa. Solidão é ser, e esse estado traz inúmeras consequências para a (sobre)vivência do homem em sociedade. Solidão. Sobre o que ela fala mais alto: perdas ou ganhos?
       "O homem é um ser social". Esse aforismo contém a verdade por trás de todas as necessidades não-fisiológicas do homem. Logo, se há a necessidade de se estar em estado de socialização, a solidão é uma barreira para a felicidade. Se reclusão constante e ausência de qualquer relação afetiva - ou seja, se a misantropia fizesse o homem mais feliz, a solidão seria um ganho, e não existiriam famílias nem amizades, nem os próprios conceitos de amor e afeto, o que prova que a vivência em sociedade é inerente ao homem. A solidão, assim, seria uma perda para o homem, uma negação de sua própria natureza.
         Por outro lado, há indivíduos que encontram na solidão conforto e estabilidade - indivíduos que não se encaixam no meio ou no momento histórico em que se encontram, e que consideram a solidão como um ganho: pois é na solidão que se pode ser livre. Tomemos como exemplo Harry Heller, de Lobo da Estepe (Hermann Hesse), que constantemente encontra-se na dualidade homem x lobo - o que dificulta a convivência - e que encontra a paz (uma paz relativa) na solidão.
          Ainda falando de liberdade: "o homem está condenado a ser livre". A liberdade, então é uma libertação e ao mesmo tempo um aprisionamento, assim como a solidão. Nesse caso, a solidão seria ambos: perda e ganho - pois o homem quer ser livre, mas a sua liberdade acaba quando ele se sujeita a regras de convivência social. O que a solidão permite (a liberdade e, portanto - em termos - a felicidade) a socialização oferece (a felicidade).
       Levando em consideração os parágrafos anteriores e seus aforismos, pode-se concluir que a solidão, justamente por ser uma questão tão humana, é absolutamente antagônica, ou seja, traz tanto perdas quanto ganhos. "O homem é um ser social", "o homem está condenado a ser livre" e acrescento "é impossível ser feliz sozinho": qual das três frases fala mais alto, afinal? Nenhuma. A perda não anula o ganho e vice-versa, e o homem deve aprender a driblar essa dualidade tão intrínseca de sua própria natureza.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Victor

- Victor?, Luana perguntou, avançando a passos largos e lentos na direção do homem.
- Isso não importa, sim?, foi-lhe a resposta.
- Meu querido; ia dizendo com um sorriso malicioso; eu preciso saber que nome gritar.
O homem parecia não estar ouvindo, ocupava-se em examinar o corpo de Luana enquanto afrouxava a gravata e abria os botões da manga da camisa.
Aquele quarto. Era bem aconchegante e arrumado quando considerada sua função. Uma cama grande e com roupas de cama muito bonitas, cortinas luxuosas, uma grande janela com uma vista muito bonita apesar de ser só do primeiro andar e um espelho grande e bonito.
Sim, um espelho. E esse especialmente não era no teto - era um espelho pequeno, daqueles que só refletem seu busto, e ficava ao lado da janela. Qual o propósito daquilo?
Quartos como esses não deviam ter espelhos. As moças que por ali passam têm sentimentos confusos e deturpações de mais em sua personalidades para conseguirem aproveitar do prazer de olhar-se no espelho e sorrir ao ver sua própria imagem. Os homens que por ali passavam também abaixavam o olhar ao observarem a expressão fria e vazia do reflexo encarando-os. Resumindo, um lugar como aquele exigia uma venda para os olhos, não um objeto que induz a reflexões acerca de sua existência.
Luana sentou-se na cama e indicou com os olhos para o homem segui-la.
- Não, eu não quero sexo, disse Victor. Só quero fumar e olhar livremente para uma mulher. Sabe, não posso fumar dentro de casa e minha esposa me sufoca com tanta insegurança.
Afrouxou novamente a gravata. Acendeu um cigarro, aproximou-se dela e soltou a fumaça em seu rosto. Uma expressão sarcástica e um tanto surpresa espalhou-se pelos olhos de Victor.
- Você parece decepcionada.
- Você parece louco. Ainda vai me pagar, certo?
- Sim, madame. Como quiseres.
Apesar de ter pronunciado as palavras "louco" e "pagar" com sua característica firmeza, Luana não parecia convicta de como deveria se comportar naquela situação. Mais fácil lidar com homens neandertais e sedentos por sexo do que um que, de tão perdido, precisou procurar uma prostituta para sentir-se mais... ele mesmo. O que aquilo queria dizer? Ele não precisou ceder a seus "instintos" para livrar-se da abstinência e da claustrofobia causada pela esposa. Isso mexeu com nossa protagonista.
- Você está casado há quanto tempo?
- Dez anos. Sempre fui feliz e fiel. Acho que por isso ela começou a me sufocar de insegurança. Mulheres não gostam quando tudo está perfeito, sim? Elas têm de arrumar algum problema para a situação parecer mais real, como se desgraça fosse um sintoma da realidade. Victor riu e apagou o cigarro no dorso da mão. Luana cobriu-se com seu robe de seda cor-de-vinho pois sentiu vergonha de sua natureza ao encarar Victor. Ele parecia tão triste, e conformado, e adestrado, e ainda assim, encontrava formas razoavelmente saudáveis para liberar suas angústias.
- Então, isso é o que você faz da vida?
-... desculpe-me?
- Isso mesmo. Você é só prostituta ou isso é um tipo de segunda vida?
- Não é uma segunda vida, porque uma segunda vida significa que há uma outra vida, vivida pela mesma pessoa, e o que acontece comigo não é isso.
Victor parecia intrigado.
- O que é, então?
- Eu vivo uma vida só, e a outra parte de mim vive outra. Não tenho lembranças racionais nem sensitivas, só sei que, em certo momento, o meu eu de agora se desliga.
- E você sempre foi assim?
- Eu não lembro.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

impulsos

Um feixe de luz entrando através da cortina de camurça e vermelho-sangue e pousando numa pele macia e rosada. Um ambiente fétido, repugnante, medíocre, em oposição a delicadas mãos. Um homem indo embora deixando dinheiro dentro dos sapatos da moça, em oposição à ternura e inocência com que ela se encontrava encolhida em posição fetal na cama. Essa era Luana.
Franziu as sobrancelhas ao perceber que já era dia. Levantou-se preguiçosa e relutantemente, em movimentos lentos e calmos, até que - oito e meia? - já? - vestiu-se - penteou-se - onde está o dinheiro? - ele deve ter pago a diária - saiu e deixou aquele lugar para trás.
Sim, finalmente, chegou a sua casa. Foi direto para o chuveiro, limpou-se de toda a sujeira da noite passada - limpou-se a consciência - limpou-se das memórias, dos sentimentos, da selvageria, do caráter animal e impulsivo - limpou-se da mágoa e do remorso de ser tão paradoxal, primitiva e sem auto-controle - pois era um novo dia e sempre há muito trabalho para ser feito na escola em que trabalhava.
Um tipo diferente de escola, em que as crianças de 4 a 8 anos têm aulas juntas, fora as de matemática e ciências. Esse compartilhamento de experiências e aprendizado era muito rico, e Luana adorava seu trabalho. Às vezes iniciava reflexões e guiava as crianças por uma linha de pensamento, outras vezes dava aula de música, e de tempos em tempos reunia-se com as outras três ou quatro professoras para discutirem o processo, os métodos e os progressos feitos.

O tema das aulas ao decorrer da semana seria sobre controle de seus instintos e noção de público e privado.

É sempre muito difícil explicar para crianças o porquê de certas convenções e coerções. A criança, tendo uma personalidade e um quê primitivo dentro de si, não entende facilmente por que razão certas coisas são públicas e outras são privadas, ou ainda por que deve-se controlar certos impulsos e instintos.

- O que diferencia nós, pessoas, seres humanos, dos macacos e outros animais, além de nossa aparência?, Luana perguntou.
- Macacos têm uma família só muito grande!
- É, os animais estão sempre em bandos, muito grandes.
- Eles não vivem em casas que nem a gente.
- Eles não sabem ler nem escrever. Nem desenhar!
- Então nós, de certa forma, somos mais evoluídos que os macacos, certo?, Luana perguntou. E o que mais? Onde os macacos fazem o número 1 e o número 2?
- Em qualquer lugar!
- E onde eles têm filhos? Um macaco casa-se com uma macaca para sempre e eles têm apenas alguns filhos, ou não?
- Eu outro dia vi na televisão que não existe isso de casar entre os macacos. Um macaco pode ficar com várias macacas ao mesmo tempo.
- Isso tudo, crianças, nos diferencia dos animais. Nós temos controle de nossos impulsos e instintos. Nós sabemos que não podemos simplesmente abaixar as calças e fazer o número 2 na rua, certo? Sabemos que existem certas regras e que devemos respeitar essas regras de convivência. Cada vez mais, quanto mais envelhecemos, nos damos conta de que nós somos donos de nossas vontades e impulsos, e que não devemos nos deixar dominar por eles. Vocês estão acompanhando?
- Um dia ouvi minha mãe dizer pra uma amiga dela que meu pai não sabia controlar seus impulsos sexuais e que por isso eles estavam se separando, porque ele precisava ficar com outras mulheres, que nem o macaco precisa ficar com outras macacas. E ele é velho, professora.
Luana procurou não voltar suas atenções para tal comentário. Desconversou e logo o sinal bateu. As crianças foram todas embora, mas Luana ficou ali, sentada na sala, observando o círculo no chão em que as crianças sentavam na hora das reflexões. Ela lembrava-se claramente da noite passada. Lembrava-se nítida e racionalmente de tudo o que fizera, mas algo a impedia de digerir tudo aquilo, de processar, de sentir novamente o que era estar naquele lugar. Um bloqueio, uma trava de emoções ligava-se toda vez que Luana saía à noite, de forma que a Luana da noite era diferente não comunicava-se com a de dia. Uma forma de defesa, talvez?, pois sem os dois lados da história não era possível refletir-se a respeito, então ambas Luanas seguiriam com sua forma de vida sem culpa ou consciência de suas falhas de caráter.

(continua)

terça-feira, 23 de março de 2010

o mundo embaçado

Um belo dia ele acordou e levou um susto. O mundo estava embaçado. Ele mal conseguia enxergar - distinguia algumas poucas formas, e ainda sim, com dificuldade, e ainda assim, com muita ajuda da luz. Sentou-se na cama, olhou ao redor - como se o borrão que ele estava vendo fosse apenas daquela parte do quarto - e percebeu que todo o mundo ao seu redor decidiu ficar indistinguível. Gritou pela sua mulher. A mulher veio correndo, e ele quase foi às lágrimas ao perceber que não conseguia ver os traços do tão bonito rosto de sua mulher. Já não bastasse o mundo estar embaçado, suas lágrimas o pioravam. Enxugou os olhos. A mulher perguntou se ele estava se sentindo bem, se algo tinha acontecido. Ele olhou para a mulher como se ela fosse louca. "Como assim, o que aconteceu? Você não vê? O mundo está embaçado!". Ela somente respondeu, "Você não acha que precisa de óculos, apenas?". "Meu mundo é o que os meus olhos vêem. Eu não preciso de óculos nenhum, eles não melhorariam a mancha cinza que o meu mundo está". A mulher apenas consentiu. "O que eu tinha programado para hoje, mulher?". "Você ficou de ir ao banco, pagar as contas, buscar nossa filha na escola, me levar ao aeroporto, pagar a fiança do teu filho que foi preso ontem por causa de uma briga de bar. Também ficou de entregar os relatórios do trabalho, demitir cinco ou seis funcionários, e comparecer à reunião às quatorze horas. Precisa também ir ao supermercado, ir à farmácia e comprar os remédios do seu coração, visitar a sua mãe que está de repouso no hospital e sua irmã que foi internada ontem.", a mulher respondeu. O homem ficou indignado com o número de obrigações que ele tinha para realizar em apenas um dia. "E você acha que eu vou dar conta de fazer tudo isso com o mundo embaçado? Aliás, mesmo o mundo estando normal, quando foi a última vez que eu dei conta de fazer tanta coisa assim num dia só?" ele gesticulava e cuspia enquanto falava. A mulher apenas suspirou.

"Ontem."

domingo, 13 de setembro de 2009

obstáculos

Idiotice é esperar que todos vão ser como você. Estupidez é pensar que algo vai ocorrer da forma exata como você planejou. Burrice é achar que não há empecilhos.
Empecilhos, problemas, indecisão, confusão, dor de cabeça, preocupações, obstáculos, barreiras, sempre um desses vai estar no caminho. Bem-aventurados são aqueles que resistem à tudo sem machucados.
Empecilhos, problemas, obstáculos, barreiras... são todos (relativamente) fáceis de se lidar com. Sim. Um problema uma hora se resolve. Um empecilho, em algum momento, é contornado, como o obstáculo. Barreiras são quebradas.
Preocupações são controladas e dores de cabeça são medicadas.
Indecisão. "Se sou indecido? Ah, não tenho certeza", diria o indeciso. Indecisão é a alma querer uma coisa e o cérebro outra. Indecisão é você precisar daquilo, mas não querer aquilo. Indecisão é gostar do sim, mas precisar do não.
Confusão. Ausência de ordem ou de alguém que ordene, claro. Confusão é você precisar daquilo, mas não querer aquilo, e ao mesmo tempo querer estar e ter aquilo. Sim. Confusão é indecisão ao quadrado.

Não gosto de me confundir, não gosto de estar indecisa... ambos atrapalham muito. Em todos os aspectos. Ser decidido e transparente sempre ajuda. Pensem a respeito.

domingo, 30 de agosto de 2009

Contradições

Impulsividade é seguir a emoção e o desejo antes do consentimento da razão.
Racionalidade é seguir a razão sem o consentimento da emoção.
Sentimentalismo é fechar os olhos e escancarar a porta do coração.
Frieza é viver de olhos escancarados e porta de acesso ao coração trancada.
Amar é uma oração com verbo intransitivo e sem advérbio de causa.
Odiar é um verbo transitivo bem direto, simples e necessitado de advérbios.
Decepção é uma expectativa mal-sucedida.
Expectativa é otimismo baseado em questões (não-intencionalmente) egoístas.

Errado é um conceito mutável, nato, indecifrável, indefinível, e muitas vezes imposto.
Certo também.
Ser normal é um conceito criado a cada época e geração, e varia de acordo com suas opiniões.
Ser estranho e "gauche" também.
Ser inteligente depende da sua ideologia, valores e ponto de vista.
Ser estúpido também.
Ser descolado é reconhecimento, característica e estado definido pela sociedade.
Ser deslocado também.

Até que ponto contradições são, de fato, contradições?