segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

também sou suicida.

Minha vida baseia-se na minha necessidade de sentir-me útil.
E cada sofrimento, cada angústia, cada sentimento que me deixava inquieto era um impulso para uma reflexão e, por conseguinte, uma decisão ou conclusão.
Também sou suicida, e considero isso uma fraqueza. Mas sou tão suicida que sigo uma filosofia na verdade propensa à vida, sou tão paradoxal que transformo minha maior fraqueza na minha maior fonte de forças. Sei que não faz sentido, pois todo indivíduo suicida é aquele que ultrapassou todos os próprios limites e que não enxerga mais um sentido na própria vida... mas minha vida é tão insignificante (no sentido literal de "sem significado" da palavra) e minha busca tão quimérica que me pergunto quais são os meus limites. Até que ponto um homem pode aguentar? Qual nível de sofrimento é necessário para que o homem desista de sua vida? De certa forma, apesar de minha vida não ser digna de um sentido, mantenho-me vivo por um propósito. E não, viver por uma ideia não significa necessariamente que essa vida tem algum sentido.
Matar-se é relativamente fácil e caseiro; e a ideia de que essa porta de saída de emergência está constantemente aberta só me instiga a permanecer vivo, a testar-me os nervos, a provar que sou mais forte que qualquer dor já vivenciada. E, em último caso, ou não.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

a essência

Todos os livros, toda a poesia lida de 400 anos atrás, toda a música apreciada de um artista de rua, toda construção admirada, todo céu contemplado, toda organização valorizada; tudo isso; tudo isso foi feito com a finalidade de dar algum sentido a essa minha efêmera e sofrida existência.
Os dias toleráveis, medíocres e medianamente agradáveis só faziam adormecer a minha essência. Minha ideologia: antes tão séssil, então extremamente estéril. A necessidade de colocar a cabeça para funcionar, de refletir, de ler os clássicos, de duvidar de alguma teoria, de sentir-me vivo e plenamente útil só faz com que eu me repugne ainda mais nos dias burguesmente comuns!
Odeio-me, odeio-me por não ser capaz de viver um dia de paz, de descanso e de inutilidade.
Os homens não se atrevem a nadar enquanto não o sabem. Eu, eu já estou prestes a me afogar num mar de teorias e revoluções esquerdistas! Prestes a me afogar numa maré de mediocridade, de choques culturais, de discordância e de assim-chamadas músicas modernas!
Mas ah!, a vida burguesa! Como é desvalorizada! Toda a rotina, a calmaria, o planejamento e a ignorância. Quisera eu não ter nascido com este ímpeto, com esta inanição de justificativas e explicações.
Ignorância. A ignorância tão melíflua.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

is this real life?

- Eu preciso aprender a não me importar com as coisas.
- Que coisas exatamente?
- Ah, meu caro, tudo... preciso sentir que há algo mais, sabe? Que esse mundo não é tudo, que eu não tenho que me iludir com as coisas que vejo, sabe?
- O mundo não é como você o vê ou percebe. Você vê um mundo de um jeito que é limitado à capacidade do seu cérebro de interpretar o que lhe é transmitido. Suas noções de claro, escuro, quente e frio são relativas. Você está preso ao seu cérebro.
- Quer dizer que o mundo como eu vejo não é real?
- Quero dizer que o mundo como você vê é só isso: o mundo como você vê. Se você tivesse visão de calor, o mundo seria completamente diferente. Provavelmente não haveria conceitos de bonito ou feio. Seria tudo baseado na quantidade de calor emanada. A tecnologia, a moda, o aprendizado, tudo seria diferente, porque estaríamos limitados a algumas poucas cores, a algumas poucas formas.
- Ainda não entendi.
- O mundo como você vê é diferente de como um daltônico vê. A música como você ouve é diferente de como um cego ouve. Você pode ver as coisas diferentes. O seu mundo é diferente do meu. O que é significante para você é diferente do que é significante para mim. As coisas às quais você dá atenção são diferentes das minhas. Logo, a sua forma de perceber o mundo é diferente da minha. Não se prenda à forma dos outros de ver o mundo. Você deve viver e se adequar à sua forma.
- ...?
- É como se essa realidade fosse um sonho. Cada um sonha da sua forma. Cada sonho mexe com a percepção do seu sonhador de uma forma. E o que nos garante que nós não estamos sonhando, como em Matrix? As sensações que são despertadas em você deveriam fazer você se sentir único. Não deixe ninguém falar como viver sua vida. Você quer aprender a não se importar com as coisas? Não é essa a resposta. A resposta é uma reflexão acerca do que importa para você e com o que os outros querem que você se importe.

There is no spoon.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Toska

Eu estava lá, sentada ao teu lado. Observando tua respiração, admirando teus cabelos, respeitando-te pela vontade de viver. Em cada suspiro teu eu via a dificuldade e a dor, e ao mesmo tempo, a imensa resistência em continuar respirando. Tu querias continuar viva. E eu não entendia isso. Hoje já há formas indolores de se morrer, como se a alma simplesmente saísse do corpo alguns instantes depois do fechar dos olhos. Como se a pessoa simplesmente fosse posta para dormir.
Minha intenção era acompanhar-te nos teus últimos momentos, mas depois cheguei à conclusão de que teria sido melhor se eu tivesse ficado em casa, se minhas últimas lembranças fossem do teu rosto sadio, rosa e com uma expressão alegre, inocente, infantil. Ver-te pálida era muito difícil. Teus olhos sempre foram tão vivos e transmitiam perfeitamente o que passava-se-te na alma. Agora parecia que, aos poucos, tua essência dissipava-se-te pelos poros.
"Vai ser melhor para você quando eu sucumbir," tu me disse. "Você e seus eufemismos", respondi. "Você e sua dificuldade de confrontar a realidade", foi-te a resposta.
Eu apertei tua mão e teimei em segurar as lágrimas que insistiam em rolar-me pelo rosto. Eu tinha de permanecer forte, pelo menos na tua frente. Se eu mostrasse qualquer sinal de fraqueza, tu ficarias ainda mais relutante e insegura de partir. Mas nós duas sabíamos que tu e tua doença eram as mais fortes daquela sala.
Eu estava ali desde a semana anterior, não podia sair do teu lado. Depois de dois ou três dias, comecei a aceitar a ideia de que a tua hora havia chegado, começava a me preparar psicologicamente para o acontecimento, tentei fazer as pazes com a morte, pensei que aquilo poderia me ajudar a amadurecer. Mas tu, foi contigo que eu amadureci mais, tu sempre esteve lá por mim. Compreendes?
Então aconteceu. Tu me disseras que ia dormir pois o cansaço tomara conta de ti, e alguns instantes depois, ouvi aquele temido zumbido constante vindo do monitor. Teu peito não mais subia e descia. Tua mão não segurava mais a minha. Acho que a palavra que mais define o que eu senti no momento é toska. Senti como se alguém tivesse, impiedosamente, arrancado-me metade da alma e jogado ao relento, como se só por prazer, como se só para assistir ao meu espetáculo de agonia. Eu realmente me enganei quanto às pazes que supostamente fiz com a Morte.
Foi difícil ver aquele pedaço de mim morrer. Ver os médicos cobrindo aquele meu corpo e dizendo a hora da morte foi realmente assustador, mas necessário. Eu precisava deixar aquela parte minha... ir.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

vida de modelo

O desfile acabou. Após entrarmos batendo palmas, eu e minhas companheiras seguimos pelo backstage para descobrir o que faríamos a seguir. Enquanto uma mulher tirava minha roupa, a outra minha maquiagem, um cara desarrumava meu cabelo, um tentava tirar minhas botas e dois ou três fotógrafos pesquisarem ângulos bons, ouvi de longe meu agente dizendo minha programação para essa semana. Eu teria duas horas de sono, depois seguiria para 3 castings seguidos, depois vôo para Milão, depois voltamos a Paris, depois ensaio fotográfico com mais 4 marcas diferentes e vôo para New York. Tudo bem, eu pensei. A temporada do ano passado, em que eu era novidade, consegui fazer mais coisas ainda. Com ajuda da metanfetamina, claro. Muitas amigas minhas usam cocaína ou meta. Não sabiam?
Mas eu não sabia se queria fazer tudo isso. Olhei ao meu redor. Eu com meus 24 anos já era uma das veteranas dali. Moças, não, meninas de 14 anos desfilavam ao meu lado. Deve ser difícil, quero dizer, e se pedirem para ela fazer uma pose sensual, uma expressão sensual? Como ela vai fazer, se ela provavelmente nunca fez sexo? E todos os abusos que eu já sofri em ensaios fotográficos? Elas estão psicologicamente prontas para isso? Não sei.
Não sei se eu ligo. Isso me entristece. Sinto-me muito vazia, às vezes. Quero dizer, recebemos toda essa atenção, estamos tão acostumadas a mimos, a motoristas, a tendo alguém para controlar nossa vida, que me pergunto se eu saberia, se eu conseguiria viver sozinha amanhã. Já visitei todos os continentes, mas não sei pegar um ônibus. Eu não saberia administrar meu dinheiro, porque nunca precisei. Acho que nunca vivi.
Convivo com essas meninas que são consideradas maravilhosas, mas nem elas são tão bonitas como elas mesmas. Quero dizer, toda a beleza delas é uma combinação de produção com edição. E às vezes eu fico imaginando a repercussão disso tudo... pois tenho certeza de que essas meninas bobas de 13, 14 anos realmente acreditam que é saudável ter 1.75m e pesar 45kg, ou que é normal uma modelo de 17 anos não ter absolutamente nenhuma espinha. Quero dizer, em alguns castings aos quais eu vou a privada do banheiro fica entupida de vômito.
Às vezes me sinto só um corpo. É assim como sou vista. Um corpo que desfila roupas chiques, porque estas caem bem nesse. A agência, os agenciadores, meu agente, eles não ligam para meu estado, para minha saúde, eles só querem ganhar dinheiro em cima da minha imagem. É muito estressante às vezes, quero dizer, eu só paro para trabalhar quando preciso tomar soro no hospital...
Penso que às vezes seria bom se eu recebesse atenção por outro motivo que não fosse meu corpo, sabe? Quero dizer, sempre me perguntam com quem eu estou, quanto eu peso, quantos anos eu tenho, qual minha marca favorita e qual minha cor de esmalte preferida, nas entrevistas, mas nunca me perguntam o que eu gosto de ouvir, ler, assistir, fazer... Eu sou uma pessoa, sabe? Apesar de toda a materialização do meu corpo, eu ainda sou uma pessoa, eu choro, eu como, eu me arrependo, eu fico cansada, eu fico doente, eu choro mais... porque você acha que modelos usam tanto óculos escuros?
Mas apesar de tudo isso, eu nunca sei o que fazer, se eu continuo trabalhando e ganho dinheiro ou se paro e, sei lá, corro atrás de estudo... ambas opções são muito difíceis, pois, como a maioria das modelos, parei de ir à escola muito nova... além do mais, vou fazer faculdade do quê?
Bom. Acabou meu intervalo. Meu agente disse que ultimamente tenho passado um exagero de tempo no banheiro. Ele diz que mais rumores sobre uma possível anorexia ou bulimia poderiam arruinar de vez minha carreira.
Mas não é como se eu ligasse.

(baseado em um documentário que vi outro dia na GNT.)

domingo, 9 de janeiro de 2011

mônica e paola,

Era uma vez uma Mônica e uma Paola.
Andavam sempre juntas. Não faziam o estilo amigas de infância, não podiam se gabar de uma amizade de dez anos, ultrapassavam aquele clichê de serem "quase irmãs", ultrapassavam aquele clichê de uma amizade perfeita sem brigas, ultrapassavam aquele clichê de as qualidades de uma preencherem os defeitos da outra. Eram melhores amigas, de uma forma diferente. Uma não se espelhava na outra. Mônica não era nem de longe o projeto de amiga perfeita de Paola, e Paola nunca imaginara que poderia ser amiga de alguém como Mônica. Mas aconteceu. E uma era o que a outra precisava naquele momento. Paola era totalmente louca, inconsequente e sensível demais. Mônica era rígida e não se permitia fazer muitas coisas. Viviam num equilíbrio instável.
Trabalhavam no mesmo lugar e se conheceram numa reunião. Ficaram bêbadas, riram muito juntas e desse começo muito saudável iniciou-se uma amizade. Desde então, faziam tudo juntas. Iam às compras, à academia, ao shopping, aos bares, e quando não existia a possibilidade de algo melhor para fazer, abriam uma Sprite e jantavam Twix na casa de Mônica. Tudo muito normal.
Até Paola conseguir uma promoção em sua área. Naturalmente, começou a trabalhar mais, a se esforçar mais, coisas que Mônica sempre recomendou que ela fizesse. Começou a não ser tão inconsequente, coisa que Mônica sempre recomendou que ela fizesse. Começou a sair com colegas de trabalho, não por simpatia, mas por interesse.
Mônica, um tempo depois, também conseguiu uma promoção. Mas ela não mudou seus hábitos, pois não havia necessidade. Ela fez amizade com seus novos colegas de trabalho, e nenhum ocupou o tempo de Paola em sua agenda, mas não era mais tão recíproco.
As duas começaram a brigar por motivos bobos, mas a implicância estúpida era só uma forma de demonstrar a insatisfação com aquela repentina mudança no relacionamento. Agora era desgastante, e as duas se encontravam meio que por obrigação. Já não era mais tão divertido e espontâneo.
Então, um dia, Paola mudou de cidade. E as duas simplesmente pararam de se falar. Paola seguiu com sua vida, sempre conhecendo gente nova, se apegando a alguns, ajustando-se a cada ambiente que ia. E Mônica voltou a viver a mesma vida de antes de Paola, saía de vez em quando para uns drinks com os amigos, mas nada além. Depois de anos e anos de separação, Mônica ainda sentia que parte da alegria e da espontaneidade dela se foram junto com Paola, mas aprendeu a conviver com isso. Ela não tinha escolha, tinha? Ela só se perguntava às vezes se Paola sentia a falta dela, também.
Mônica, eu tenho assistido você de longe. Adapte-se. Mude. Faça amizade com seus colegas de trabalho. Pinte suas paredes. Deixe o passado onde ele deveria estar.
No passado.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Os melhores de 2010.

Sim, um pouco atrasado, mas o post contendo os melhores tudo de 2010 está aqui. Juntei muita paciência e informações pra escrever tudo. Começaremos, então.

Os melhores filmes vistos em 2010 (e que não são necessariamente de 2010) (esse foi o mais difícil): As melhores Coisas do Mundo; Le Huitième Jour; Mindwalk; Fight Club; the Godfather; Inception; Whatever Works; Cold Souls; Shutter Island; Die Welle.
Bandas mais ouvidas em 2010: Muse, Beatles, Cazuza, Carla Bruni, Glenn Miller, Porcelain and the Tramps, Mindless Self Indulgence, Wolfmother, Trio Los Panchos, e muito bolero, tango e blues.
3 Músicas mais marcantes:
Please, let me get what I want (The Smiths Cover) - Muse
Cherry Bomb - The Runaways
O Tempo não Pára - Cazuza
3 frases mais marcantes:
- In Omnia Paratus;
- If you don't claim your humanity you will become a statistic. You have been warned;
- Quem cala, consente.
3 sensações que mais me marcaram: frustração, decepção e amor.
3 Melhores Momentos: ida à Londres, ida ao Hopi Hari, e quando fui surpreendida por um buquê de lírios, na escola, mandado pelo meu namorado lindo.
3 Piores Momentos: a espera pelo avião na ida, a espera pelo avião na volta, o primeiro mês de aula.
3 personagens preferidos: Tyler Durden, Hermione, Elizabeth Bennet.
3 coisas que eu quero decidir em 2011: o que vou fazer de faculdade, o que vou fazer de faculdade, o que vou fazer de faculdade.
3 metas para 2011: estudar mais, ler mais, me informar mais.

Frase que representa 2010: pelo filósofo moderno ocidental M. Jagger, "you can't always get what you want"