quinta-feira, 16 de junho de 2011

the highest of all duties

The aim of life is self-development. To realise one's nature perfectly - that is what each of us is here for. People are afraid of themselves, nowadays. They have forgotten the highest of all duties, the duty that one owes to one's self.

Luana apreciava a perfeição de suas unhas quando ouviu o despertador. Um despertador, sim, um som inconfundível que despertaria de dentro dela a primitiva e inconsequente Luana. Despediu-se da literatura, despediu-se da água gaseificada, despediu-se de seu respeitável eu e encarnou seu próprio eu-satírico, seu alter-ego, sua outra face. Como esse processo se dá é desconhecido, o que realmente acontece com a mente e as percepções de Luana ainda é debatido.
Levantou-se do sofá e foi tomar um banho de banheira. Preparou o banho com pretensão e calma, com sais aromáticos e água bem quente. Mergulhou-se na água e concentrava-se enquanto inalava odores salpicantes e ardentes. Fechava e abria os olhos lentamente, relaxava os ombros e massageava seus pés. Tudo devia levar, inexoravelmente, a uma noite produtiva.
Enfim, pulando os pormenores das arrumação e saída, mas não omitindo o fato de ter consumido uma garrafa de vinho branco inteira antes de sair, o próximo lugar em que se encontrou foi numa casa aparentemente normal, mas vermelha por dentro. Vermelha de erotismo, de falta de saída, de desespero, de gritos, de volúpia. Algumas moças, demasiadamente jovens, reuniam-se numa sala improvisada no porão. Toda a claustrofobia da vida que essas moças levavam condensava-se nas peculiaridades da sala e das palavras que ali ficavam.
Após cumprimentar algumas colegas, checou sua agenda - sim, uma agenda, com horários tão disputados quanto os de um renomado psicólogo ou de um extraordiário personal trainer - e reconheceu o sobrenome de seu primeiro freguês, não sabia de onde, mas uma voz ecoou pela sua mente dizendo que aquilo já havia sido visto uma vez ou outra em sua vida. Foda-se. Essa informação não ajudaria em nada no seu desempenho com aquele espécime. Informações e conhecimento não têm valor nenhum para alguém pragmático e pouco essencial como Luana - forma tão mais fácil de se levar a vida, não? Pensar dá rugas. Beauty, real Beauty, ends when an intellectual expression begins. E o que é viver se não apreciar a beleza da vida?
Estralou o pescoço para um lado, depois para o outro. Andou com passos sorrateiros até o escritório, onde encontrou o dito cujo. Parecia ter em torno de quarenta e cinco anos, não usava aliança, estava ainda de terno e possuía algumas rugas que denunciavam seu caráter questionador. Sim, ela já havia visto esse rosto. Mas esse sentimento não era, ou não parecia ser, recíproco. Mas enfim, um rosto é só um rosto, um orgasmo é só um orgasmo e os lençóis de hoje serão trocados amanhã.

Realmente, um dos muitos sistemas de defesa conhecidos e usados pelas pessoas é o esquecimento, a abstração, a negação. Luana não tinha plena consciência disso ainda, mas uma parte de seu eu, de suas características, de suas vontades, tinha sido tão reprimida que, ao vir à tona, para não causar maiores enfermidades à outra parte, aprendeu a guardar suas vivências em uma área à parte em sua mente. Sendo tão paradoxal, tão complexa, e não tendo aprendido a lidar com todo seu conteúdo, Luana seguiu pelo caminho mais fácil. E perdeu-se-lhe a riqueza de ser.

(ainda continua. calma.)

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Bruna,

Seu "duty" é ser você mesma. Parabéns pela coragem e por ser poética em suas postagens.

Grande abraço!

Rodrigo