segunda-feira, 7 de novembro de 2011

o tempo

O tempo. O tempo escorrendo pelas minhas mãos, dançando pela superfície de um plano intocável como mercúrio à temperatura ambiente, zombando de minha incapacidade de segurá-lo, achando graça de meu desespero, e, ainda assim, seduzindo-me a ponto de me fazer querer saber qual é a sensação de tê-lo sob controle.
E ele passa. E ele passa e dança, e ele não quer saber se você está preparado para vê-lo dançar ou não, ele simplesmente vai, vai e o abandona como uma amante que deixa seu homem na cama; mas o tempo é frágil. E ele o sabe forçosamente. E ele teme e respeita aqueles que sabem moldar suas vidas a partir da fragilidade e evanescência dele, ah, sim. E esses indivíduos são aqueles que sabem aproveitar de forma certa a vida, com sapiência, que sabem que tudo tem sua hora, que não tem pressa, que o tempo é que tem que se apressar as pessoas e não as pessoas que têm que apressar o tempo, e que se deve fazer acontecer mais do que deixar acontecer. Porque o tempo zomba, o tempo ri de quem é ingênuo o suficiente pra achar que tudo vai se resolver sozinho.
O tempo é que deve se adequar às pessoas, ou as pessoas ao tempo?
O tempo é uma entidade que assusta. Eu às vezes tenho medo de como o tempo vai se comportar - ele será piedoso? compreenderá minhas necessidades? colaborará para que eu tenha qualidade de vida? ou simplesmente continuará rodando, rodando, de forma assustadora que faz-nos sentir absurdamente impotentes, inconsoláveis? juntamente a esse ritmo de vida moderna, vida essa que nos exige rapidez, fluidez, atualização e movimento constante, constante, constante, r-r-r-r-r-r-r-r-r, como se eu fosse uma máquina que pudesse ser reparada com um simples aperto de brocas e óleo nas engrenagens.
E enquanto eu dava vazão a todas essas ideias o tempo passou por mim, passou e não deixou marca nenhuma a não ser pela vaga sensação de vazio, de impotência, de ter algo nas mãos mas que o ato de tê-lo nas mãos não me é útil em nada, absolutamente nada, e eu fico aqui, no ta-ta-ta-ta-ta-ta das teclas do teclado sendo apertadas e no z-z-z-z-z-z-zumbido na minha cabeça que constantemente me diz palavras de despedida e de provocação.

Devo eu viver como se o tempo fosse acabar amanhã ou como se amanhã o tempo fosse acabar comigo?

Um comentário:

marina disse...

tem tempo pra tudo, se voce nao estiver se importando neuroticamente. mesmo porque nao precisamos fazer tudo com perfeição suprema. algumas coisas merecem mais empenho, e mais tempo, mas outras simplesmente nao - essas de fato se acertam com o tempo, mas voce precisa saber lidar com o que for acertado. pelo menos na minha opiniao, acho que nos todos perdemos tempo demais pensando em sob qual doutrina vivenciar nosso tempo. é mais feliz quem improvisa.