quarta-feira, 7 de abril de 2010

frio

- Alguém me escuta? - Bruna berrou e suspirou. Após isso, perdeu todas as suas forças. Estava muito frio, e juntar forças para gritar daquela altura, intensidade e força demorou. Com certeza em vão, quem estaria nas proximidades naquele instante, naquele frio?
O aquecedor começava a dar problemas. O frio tentava dominar aquele lugar, Bruna podia ver as massas de ar congelante entrando e saindo de seus pulmões. Seus lábios estavam roxos, assim como as pontas dos seus dedos. Perdera toda sua sensibilidade, não conseguia chorar - a lágrima esfriava ainda mais seu rosto, já vermelho de frio. Desejava ser uma máquina. Bom, de certa forma, ela já era uma máquina.
Bruna olhou ao redor do que era para ser o chalé em que ela passaria suas férias de inverno. Agora era apenas uma casinha de onde não era possível sair. As portas e janelas estavam todas impossíveis de serem abertas por dentro. Só com a ajuda de alguém de fora ela conseguiria sair daquele lugar tão frio.
Passou algum tempo. Impossível dizer se foram instantes, minutos ou horas, mas ela ficou ali, sentada, esfregando as mãos perto do que restava de fogo e ocupando sua mente com o que restava de esperança.
- Tem alguém aí? - Bruna ouviu uma voz de fora. Primeiro achou que estava ficando louca, depois fez o máximo de silêncio para ouvir a voz de novo. - Oi, tem alguém aí dentro?
- Tem sim! Eu estou presa! - Bruna disse com a voz surpreendentemente rouca, e rezou para que a voz escutasse. - Por favor, me ajude a sair daqui...
- Fique calma, eu vou tentar te tirar daí - a voz era masculina. - Vou tentar abrir a porta, e depois a janela.
Bruna suspirou. Seu rosto ficou mais liso. Até apareceu um esboço de sorriso ali naquela boca torta. Agora ela tinha alguma chance de sair dali e de viver de novo. Enquanto ouvia a voz cavando a neve e realmente se esforçando para tirá-la de lá, sentiu-se desmerecedora de toda aquela atenção. Sentiu-se preguiçosa. Levantou-se e foi até a porta, para tentar abri-la também.
- Sem chance de entrar pela porta. Tem uma camada imensa de água congelada aqui, moça - a voz masculina disse. - Vou tentar abrir a janela.
Mesmo sabendo que ele não via seu rosto, ela balançou a cabeça, consentindo. Foi até a janela, embaçada, esperar. Foi quando viu o rosto de seu salvador. Combinava bastante com a voz. Seu sorriso passava uma segurança que agora ela tinha certeza absoluta de que sairia dali. Ele retirou muita neve da janela, do lado de fora. Quando conseguiu chegar ao vidro, fez um pouco de força mas o vidro cedeu e quebrou, abrindo uma enorme passagem. Bruna estava livre. A voz masculina deu um sorriso, ofereceu-lhe luvas e disse:
- Ah, meu nome é Pedro.

2 comentários:

Buxexa disse...

Texto muito bonito, muito emotivo, assim como você, em certas horas he
Sério, tá mt bom.

PS. Quem é esse Pedro?

vmbsf disse...

Frio, chalé que vira casinha, decepção.
Encontro,abertura, calor, esperança.
Lindo texto, linda metafora.

PS: Quem é esse Pedro?hahahahaha