quarta-feira, 20 de outubro de 2010

mais um (a)típico conto adolescente,

(não sei de onde eu tirei coragem pra escrever e postar esse conto besta)

- Então você pode contar qualquer coisa pra mim, e eu pra você? - Eu disse, temendo pela resposta.
Estávamos sentados, Tiago e eu, numa sorveteria em frente à minha casa - que era ao lado da dele -, ainda de mochila nas costas, pois tínhamos acabado de chegar da escola. Nós dois fazemos o estilo "dezessete anos e fugiu de casa", pois ambos odiamos passar muito tempo em nossas respectivas.
- Sim, claro. Você sabe que eu te considero demais... - ele respondeu. Foi difícil não desmanchar meu sorriso. Aquela adrenalina, que percorreu o meu corpo durante os segundos relutantes entre a pergunta e a resposta, agora era uma onda fria de decepção. Não era nem frustração.
- Certo. - Respondi. De certa forma, seria estranho se não pudéssemos contar um com o outro, ele é meu vizinho desde que eu me entendo por gente, temos tanta coisa em comum.
- Em quem você está pensando? - Ele disparou, para minha surpresa. Devia ter percebido que eu estava corada. Nunca fui muito boa em esconder emoções, ainda mais dele. - Em alguém que você odeia, certo?, julgando pelos seus punhos cerrados e seu anel do humor. Preto.
- Só fica preto quando estou com você, trouxa. - Eu disse. E era verdade. - Acho que eu te odeio, então.
Então ele fez A cara. A cara matadora, que sempre conseguia o que queria. Eu não poderia resistir. Sem chance. Seus olhos castanhos ficavam ainda mais realçados com as lágrimas forçadas. A típica cara-de-cachorro-abandonado. Tão doce.
- Mas eu acabei de dizer que te considero tanto...
Me deu uma vontade tremenda de virar os olhos e esmurrar o nariz dele. Era justamente por isso que eu estava nervosa. Idiota. Talvez eu realmente o odiasse.
- Você sabe que pode me contar o que tá acontecendo, né? - Ele disse, e me lançou aquele sorriso que era só dele.
Acho que a maior realização de uma garota seria conseguir fazê-lo sorrir daquele jeito para ela, por ela.
- Nada - respondi. - É que eu estava só mentalmente constatando que eu nunca soube por quem você está apaixonado.
Eu não sei por que pergunto essas coisas! Maldita impulsividade. Não era a hora certa, ainda.
- Ah - ele aparentemente foi pego de surpresa. Acho que isso é bom. - Achei que você soubesse.
Opa. Isso eu não sei como interpretar. Pelo jeito é alguém óbvio. Ele é tímido, então deve ser alguém que ele conhece faz tempo.
Então eu o olhei. Olhei de verdade. E vi para onde ele estava olhando.
Pra minha casa. O olhar dele estava mirado na minha irmã mais nova. Um ano mais nova, só.
- Eu sabia! - Eu levantei, apontando pra ele, e depois pra minha casa, e depois pra ele. - VOCÊ GOSTA DELA! Eu achava que você ia lá em casa porque gostava de mim e do meu brigadeiro, MAS ERA SÓ PRA FICAR PERTO DELA!
Ele corou e abaixou a cabeça. Suspirei de alívio. Meu plano cupido havia funcionado. Eu temia que ele gostasse de mim, mas, afinal, eu sou só a melhor amiga. Então me peguei olhando pro quintal da casa dele. Pro irmão dele, que nos encarava com um olhar distante... Na verdade, quando nossos olhares se cruzaram, ele pareceu confuso e até um pouco triste. Senti a repentina vontade de sair correndo e abraçá-lo.
- Vai lá. - Tiago disse. - Antes que ele pense alguma coisa sobre... hum, nós.
Lancei-lhe um olhar cúmplice. Quero dizer, Tiago é uma graça, mas nem se compara ao seu irmão, Marcelo, que faz faculdade há dois anos, já.
- Fico feliz que nós não somos mais um daqueles casais adolescentes que aparecem em clipes de cantoras loiras que cantam Pop - Tiago disse. Sim, analisando bem, seríamos o típico casal de melhores amigos que demoram pra assumir que gostam um do outro.

Totalmente chato.

Porque, cá entre nós, o Marcelo...

Um comentário:

vmbsf disse...

Não é besta; é o que você vê ao seu redor, só não aconteceu com você. Mas, a todo momento, tem "amigos" que descobrem que sentem algo a mais.
E, pra dizer a verdade, acho que devemos saber separar amigos de pessoas por quem sentimos algo diferente. Poucos adolescentes e, mesmo adultos,sabem discriminar tais sentimentos.