domingo, 3 de abril de 2011

sobre Hermann

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!

E não há verso que poderia expressar melhor a ideologia de Hermann para com o restante do mundo. Hoje Hermann era um senhor de meia idade com uma carreira acadêmica brilhante e alguns prêmios de excelência dados pelas mais ilustres organizações de sua área. Fã de aforismos e de conclusões objetivas e claras, apesar de não ser nem de longe tão pragmático quanto Fitzwillian. Porém, note que o processo, a evolução do pensamento, as conexões e assimilações eram incrivelmente demoradas e eram a parte mais apreciada por Hermann.
Tinha um espírito investigativo, característica sua desde adolescente. Passou inclusive por várias fases e várias ideologias. Após uma breve fase niilista, Hermann percebeu que vida nenhuma pode ser desprovida de sentido, então empenhou-se para que a sua própria tivesse algum. Ele questionava e instigava não para chegar ao nada absoluto e à destruição completa da moral, mas porque queria entender tudo, seu funcionamento - queria aperfeiçoar as artes, a ética, a moral, a filosofia, a psicologia, a ciência. As pessoas. Queria aperfeiçoar as pobres pessoas de espírito fraco.
Muito idealista. Extremamente idealista. Se sua atividade não levasse ao bem e apenas o bem, não poderia praticá-la. Se não fosse totalmente ético, o rumo de sua vida a partir dali tornaria-se uma espiral cujo final era a inevitável corrupção de espírito. Riam-se os colegas de Hermann, admiravam-no e sentiam pena seus professores.
A busca por um sentido na vida tornava-se cada vez mais desgastante e complexa conforme vai se envelhecendo. O que de certa forma não faz tanto sentido para as mentes das pessoas comuns, porque o raciocínio lógico e socialmente aceito é que quanto mais se estuda e trabalha, mais específica sua atuação no mundo vai ficando e, consequentemente, mais específica e definida sua visão e planos para o futuro. Mas Hermann, que surpresa, era diferente. Quanto mais ele estudava, mas sentia que havia déficit de investimentos sociais em várias áreas da sociedade, mais sentia que precisava estar em todos os lugares a todos os instantes, e menos sabia onde em que exatamente queria fazer sua contribuição. Pode-se dizer que este é um dos motivos de Hermann ter seguido carreira acadêmica - lendo, pesquisando, pensando e escrevendo - e nunca realmente lançou-se no mercado por vontade e gosto próprio (pois trabalhara com o pai, rico).
E com a crescente complexidade de sua busca, a frustração com relação às pessoas também ia aumentando. Pensar que ninguém tinha os mesmos questionamentos e objetivos que ele era muito desencorajador. Sua área de interesse era realmente extensa - sua paixão era por Humanas. Escreveu artigos sobre filosofia, psicologia, ética, moral, história, sociologia, antropologia, história da arte - especializou-se em filosofia porque achava que isso o ajudaria a decidir que rumo, que corrente tomar.
O desespero. Hermann vinha lidando com o desespero. Tentava reprimir, lutava contra, estrangulava a vontade mais pura que havia dentro de seu ser - desistir de tudo porque não restava mais esperança, não se podia acreditar no potencial das pessoas porque elas não tinham um potencial. Esse desespero que originava crises de angústia, de existência - sentia-se incontrolavelmente tentado a voltar à sua filosofia Niilista. Seria tão mais fácil.
A idade chegando, Hermann foi tornando-se uma caricatura de si mesmo, porque não fazia muito além do que sempre fez (ler, pesquisar, pensar e escrever). Esse tipo de quase excelência moral e intelectual não costuma ser um atrativo ao orgulho de pessoas medíocres, então foi se tornando recluso e alternativo à sociedade. Não era e nunca foi sociofóbico e misantropo, mas uma parte do seu ser relutava e ganhava toda vez que sentia necessidade de assistir a um filme ou tomar um café forte.

O tempo passa, as perguntas mudam junto com os interesses, as visões de mundo, a maturidade e a alma, mas algo que Hermann se perguntava desde tenra idade até aquele momento era: Por quê? Por que as coisas são assim? Não há bagagem sociológica que explique o mundo em que vivemos e sua total inversão de valores com a passagem das décadas, e Hermann não estava nem perto de se conformar com a resposta "porque sim".

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