Eles se entreolharam no quarto escuro, com apenas um feixe de luz vindo da porta entreaberta.
Os dois estavam sentados, um de frente para o outro, em duas poltronas.
O ambiente estava tenso.
Era insuportável ficar ali. O ar estava denso. O quarto parecia estar diminuindo a cada segundo. E palavras não-ditas dançavam pelo ar.
- Não tem nada pra me dizer?; ela diz.
- Nada que você já não saiba; ele retruca.
A teimosia dele era constante e irremediável.
- Eu gostaria de saber o que se passa na sua cabeça agora; diz ela, tentando conversar.
- Quer saber o que se passa na minha cabeça? Eu acabei de chegar à conclusão de que foi tudo uma perda de tempo. Isto é uma perda de tempo. Você é uma perda de tempo; ele disse, frio.
A expressão no rosto da garota se transtornou imediatamente.
Como ele podia dizer algo assim?
- Não foi isso que eu quis dizer; o garoto tentou reparar seu erro. Ele sempre era tão impulsivo, tão inconsequente, agora estava prestes a perder a coisa mais preciosa de sua vida, e nada ao alcance do seu orgulho podia ser feito.
Mais um minuto (que foi sentido como uma eternidade) de silêncio. Aquilo estava ficando além do que suas pobres almas fracas podiam aguentar.
- Isso é mais do que eu consigo aguentar; a garota diz, sincera, olhando para seus pés, em sinal de inocência, fraqueza e rendição.
- Você acha que isso é mais do que você consegue aguentar? Minha consciência me mata todos os dias, porque eu sei que eu acabei com minha integridade, acabei com o seu orgulho, acabei com sua imagem, logo a sua, que sempre foi tão imaculada. Você sabe que para mim, caráter e integridade são tudo; o garoto diz, alterando um pouco a voz.
- Se realmente fosse, você não teria feito o que fez; a garota diz, olhando pela primeira vez, o garoto nos olhos.
Seu olhar demonstrava uma quantidade muito grande de sentimento para sua pouca idade.
A garota respirou fundo, como se estivesse procurando as palavras certas, e disse:
- Se para você, o que mais importa é integridade... devia se preocupar mais com a sua.
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