Eduardo pôs as mãos na cabeça. Precisou respirar fundo algumas vezes, sentia-se um pouco tonto. Um pouco depois, foi despertado pelos passos do garçom, aproximando-se de sua mesa.
- Qual a forma de pagamento, senhor?
- Vamos dividir. À vista.
O garçom pareceu confuso. Seus olhos subitamente adquiriram uma expressão oblíqua, depois de riso, e ele perguntou:
- Seu acompanhante retirou-se e já volta, ou...?
- Não, meu jovem, vou dividir a conta com... - e ao fazer o movimento com a mão indicando os bancos vazios ao seu redor, se deu conta de que estava sozinho. Piscou os olhos lentamente e procurou indícios da presença de Dibs, Fitz, Hermann ou da moça. Quando não foram encontrados, Eduardo sinalizou para o garçom trazer a conta e ponto final.
Pagou a conta e saiu do bar, perturbado. Havia dormido? Bebido demais? Estava sonhando? A última coisa de que se lembrava nitidamente antes de chegar ao bar era de entrar em uma igreja. Será que havia caído no sono dentro da igreja mesmo?
Eduardo andava enquanto pensava tudo isso, e quando o turbilhão de dúvidas em sua mente cessou, começou a prestar atenção no caminho. Parecia que não saía do lugar. Parecia que estava andando pela ponte sobre o lado prateado há vários minutos - a ponte não era tão grande assim. E ainda encontrava-se no meio do caminho! Curioso! Eduardo começou a correr, mas quanto mais ele corria, mais a outra margem afastava-se, mas ao olhar para trás, não tinha saído do lugar. Sentou-se devido à exaustão.
Foi então que reparou nas roupas que estava usando. Os sapatos de Dibs, o terno de Hermann e os cabelos e gravata de Fitz. Fora suas mãos, que eram iguais às da Dama.
Algo fez Eduardo levantar o olhar e virar-se para o início da ponte. Lá estava Dibs. Ele parecia não notar a existência de Eduardo. Estava lá, com seu olhar romântico, perdido, indeciso entre apreciar o caminho pelo que veio ou a ponte a que estava se dirigindo. Mesmo assim, parecia estar na iminência de fazer uma decisão, o que exalava força e autoconfiança de seu indeciso sorriso.
Então notou alguém de pé ao seu lado. Era Fitz. Não olhava para nenhum dos lados da ponte, não olhava para o tão bonito lago, não olhava para a lua - olhava para os próprios pés, para as próprias mãos. Parecia tão triste e tão decepcionado. Olhou para o fim do caminho, olhou para o começo, e em sua expressão ficou muito claro que queria estar em qualquer dos dois lugares, menos no que estava - no meio do caminho. Não exalava a autoconfiança de Dibs, na verdade, apesar de tentar disfarçar, parecia estar muito indeciso e infeliz. Eduardo sentiu pena de Fitz.
E então viu Hermann, no final da ponte. Mãos nos bolsos, olhava de cima pra baixo para a ponte, parecia sentir-se superior por ter conseguido chegar ao outro lado inteiro. Mas lançava olhares tristes para o lago, para a lua, para as pedras de que era composta a ponte, como se estivesse arrependido de não ter notado esses detalhes enquanto estivera atravessando-a. Focou-se em atravessar a ponte dignamente e de cabeça erguida que perdeu o lado humano e curioso de aproveitar o caminho. Parecia tão triste quanto Fitz, mas sua postura orgulhosa disfarçava-o bem.
Eduardo não queria chegar ao outro lado da ponte decepcionado, também não queria ficar ali no meio indeciso ou arrependido sobre o que fez ou deixou de fazer. Olhou para Dibs, que parecia tão natural, tão pronto para a vida, e percebeu que não devia tê-lo deixado para trás. Fitz parece ter deixado seu Dibs interior para trás, e as consequências disso são visíveis, risíveis. Ainda havia tempo, havia metade da ponte para ser percorrida, muitas luas e muitas marés passariam e Eduardo poderia voltar a aproveitar dignamente sua passagem. E então, num piscar de olhos, todos os três homens desapareceram, e ele percebeu a aproximação em passos lentos e suaves da Dama, carregando um lampião, que iluminava a ponte inteira. Ela estava sempre por perto, guiando seus pensamentos, guiando-o pela travessia da ponte. Embora não tivesse se feito muito presente no início da travessia, agora lá estava ela.
- Decidiste? A ponte ficou mais clara agora?
Eduardo fez que sim com a cabeça.
No instante seguinte, encontrou-se na poltrona vermelho-sangue, numa sala muito bem iluminada por uma luminária grande que agora estava no centro da sala.
FIM \o/
Um comentário:
Reconheço o filósofo Schopenhaeur, o mais humanista( de todos ): o psicoterapeuta Rogers, reconheço Sartre e reconheço um anjo em forma de luz,ou como muitos teóricos nomeam : a consciência, a própria psiquè.
Vejo uma busca e um encontro ao sentido da vida; Frankl ficaria feliz de saber que não fora esquecido nem no campo de concentração nem no armário da minha biblioteca.E, por fim, vejo você na busca pela vocação, na reafirmação das suas vertentes fundantes e na intensa construção da sua existência.
E,claro,como sempre : orgulho estupendo !!!!
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