Cara Bruna,
Eu tenho muitas coisas para falar-lhe. Não sei por qual começar. Primeiramente, da última vez que a vi você parecia tão abatida, tão desesperançosa, que com muito esforço contive meu ímpeto de abraçá-la. Eu perguntaria o que aconteceu, mas sei que você simplesmente responderia "a vida; a vida é que aconteceu".
Sei que temos muitos assuntos mal-resolvidos, grande parte de nossos problemas caíram em oblívio, o que permaneceu foi aquele sorriso forçado e a frase dita em um semi-sussurro "está tudo bem". Sei bem que você - assim como eu - é uma criatura absurdamente obstinada, soberba, mas isso tem limite. Veja, todos temos problemas e é perfeitamente aceitável - e saudável - assumi-los e tomar uma atitude para resolvê-los. Sim, eu sei que seria infinitamente mais fácil esconder-se por trás de uma máscara sociofóbica e antissocial, mas no fundo você é uma alma em agonia desmanchando-se no frio suplicando para que alguém a cubra com seu cobertor de afeto e atenção. Também sei que é mais fácil colocar a culpa na sociedade, nos valores sujos e corrompidos, no vazio niilista e por vezes dadaísta presente nas pessoas, no sistema massacrante capitalista, na mídia e no Jornal Nacional que desinforma... mas este é o comportamento padrão do ser humano: não admitir seus erros e colocar a culpa em outro alguém. Você acha que age muito diferentemente? Pois não age. Em vez de encarar a dor da difícil tentativa (pois ela pode levar a uma mais dolorosa ainda rejeição), você se esconde na conveniente indiferença. O quão patético é isso, Bruna?!
Olha, perdão. Eu sei que não sou a pessoa mais amável do mundo, também tenho minhas preguiças sociais, também tenho alergia a futilidade e a ignorância, mas pra isso existe homeopatia. A homeopatia da internet, da psicoterapia, dos professores. Algumas horas com um desses pode servir de tratamento por até uma semana, acredite. E quanto ao borbulhar de ideias acontecendo na sua cabecinha e que você insiste em condensar e negar... deixe-o evaporar. Deixe-o borbulhar, esparramar-se no chão. É uma ótima prevenção contra o inevitável enlouquecimento. Eu tenho dó de você, mas não um dó ruim e sarcástico - um dó sincero, daqueles que fazem todo o ar sair dos seus pulmões só de você pensar no sofrimento da pessoa. E eu realmente quero que você melhore, que você mude, que você consiga tornar esse 2012 pelo menos um pouco melhor do que os dois anos que passaram, porque olha... dentre todas as pessoas que eu conheço, você é uma das poucas que merece, que realmente merece pelo menos um vislumbre do que significa ser feliz. E não digo isso porque, bem, você é meu reflexo, mas porque eu sei de tudo por que você passou, o quanto você é forte, e, bem, isso fez-me gostar bastante de você. Ao mesmo tempo que a acho incrivelmente estúpida, miserável e infeliz por você ser uma peça de quebra-cabeça que não sei encaixa em lugar nenhum, admiro-a justamente por isso.
Então, enfim...
Por favor. Mais surrealismo e menos barroco na sua vida.
Com todo o respeito,
Bruna S.F.
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