- Não. Eu não vou mudar de idéia - o homem dizia ao telefone -, eu já estou subindo as escadas que dão pro terraço e vou me tacar de lá de cima. Estou abrindo a porta, e... - assim que ele abriu a porta, se deparou com um outro homem. - Solange, vou desligar.
Ele desligou o celular e olhou com surpresa para o outro homem.
- Ora, bom... olá - o outro homem disse, um pouco surpreso.
- Boa noite - o primeiro disse. Os dois ficaram um instante quietos, sem saber realmente o que falar.
- Então... noite bonita, não é?
- Sim, sim, maravilhosa. Ouvi falar que hoje é a noite mais limpa dos últimos 25 anos.
- Pois é...
Mais um instante de silêncio. A trilha sonora era de sirenes e buzinas.
- Meu nome é André - o primeiro homem disse.
- Ah, claro! O meu é Lucas.
- Lucas, certo...
- É.
- Assistiu ao jogo hoje à tarde?
- Opa! Jogaço, hein? Esse tipo de jogo é que me dá orgulho de ser santista!
- Já é, irmão, sou santista também.
- Robinho deu um show.
- Ô se deu.
Mais um instante de silêncio.
- Então - Lucas disse - O que te trouxe aqui? Domingo é dia de família.
- Tenho família não. Minha namorada me deixou e meus irmãos estão no exterior.
- Ah, que barra.
- Pois é. Mas e você?
- Fui demitido, meu carro foi guinchado e tive minha casa assaltada. Tudo hoje.
- Pô, cara, meus pêsames...
- É, eu amava meu carro.
- Quando eu tinha dezoito anos ganhei um Impala 67. Aquele carro era o meu xodó. Na segunda semana minha com ele, bebi demais, bati o carro e dei PT... nunca mais fui o mesmo.
- Impala 67? Clássico! Mas eu bati um C4. Juntei dinheiro durante dois anos pra comprar um carro decente, e no quinto mês de uso, o tiram de mim! Puta mundo injusto.
- Ô se é. Mês passado eu quis pintar meu carro de cor diferente. Gastei uma grana, e minha ex disse que com aquele dinheiro dava pra comprar uma aliança. Eu disse que a pintura vinha primeiro. É muito absurdo isso?
- Claro que não! Aposto que se você tivesse comprado a aliança, ela teria falado que não se casaria com um homem que tem um carro tão feio e mal pintado.
- Exatamente!
Ambos olharam lá para baixo, onde no momento acontecia um incêndio e os bombeiros tentavam controlar tudo aquilo.
- Você veio aqui pelo mesmo motivo que eu? - André perguntou.
- Eu queria me matar.
- É...
Eles olharam pro incêndio. Pessoas queimadas saíam do prédio toda hora.
- Essa água toda dos bombeiros me lembra que eu nem bebi hoje - Lucas disse.
- Quer tomar uma cerveja?
- Bora.
2 comentários:
poxa, melhorou meu dia, foi boooa *-*
adorei o tema! seu blog é muito bom e suas críticas são impecáveis. concordo totalmente com vc sobre os adolescentes atualmente! (:
Postar um comentário