terça-feira, 17 de agosto de 2010

seis horas da manhã de segunda-feira

"Uau!" era a única coisa que podia ser dita naquele momento - e somente os mais corajosos o diziam, ou os mais lunáticos ou intelectuais que já sabiam que um dia aquilo iria acontecer.
Todos olhavam para frente assustados, impressionados, chocados, atônitos, confusos, incrédulos. Todos pararam suas respectivas atividades. Quem estava ouvindo música tirou os fones. Quem tomava café esqueceu que segurava a xícara. Quem estava apressado perdeu o rumo. Todos parados para contemplar o que acontecia na frente de suas cabeças.
Passou-se um minuto, dois, três. Alguns esfregaram os olhos, outros se beliscaram, outros começaram a duvidar da própria sanidade. O certo é que cada um, vagarosa e pessoalmente tentava assimilar o que estava acontecendo. Todos mentalmente fazendo paralelos com filmes ou livros e, ainda assim, nenhuma explicação satisfatória foi encontrada.
Uma imensa placa de metal agora tomava a frente do corpo das pessoas. Apenas isso - uma imensa placa de metal pairando ali. De repente, quadrado por quadrado, luzes foram se acendendo na placa - e uma máscara de teatro, sorrindo, apareceu ali, numa transmissão de TV. Ela começou:
"Bom dia, cidadãos!". Silêncio coletivo. Alguém tossiu. "Certo, eu esperava uma recepção mais calorosa, mas não importa. Todos prontos para trabalhar e fazer nosso país andar somente pra frente?". Silêncio coletivo de novo. Todos hipnotizados pela voz profunda e cativante da máscara, que tinha olhos, nariz e bocas negras. "Todos prontos para gerar mais e mais lucros, subir na vida e ganhar dinheiro? Prontos para serem consumidores ativos e socialmente relevantes? Prontos para serem aceitos e queridos por todos? Prontos para viverem de acordo com as minhas regras, todos os dias?". As pessoas acenaram positivamente com a cabeça, mecanicamente.
"Eu sou o seu Senhor.". As feições da máscara repentinamente se modificaram pra uma expressão mais severa. "Vocês devem me obedecer sob qualquer circunstância. Não importa se vocês não concordam, se vocês não gostam ou se vocês não têm como me obedecer. Terão de achar uma forma de se enquadrar nos meus padrões.". Todos apenas escutando.
Algumas pessoas desligaram seus televisores, outras ainda assistiam ao discurso alienante do Capitalismo. Acabaram seus cafés-da-manhã e foram apressados ao trabalho. Sabiam que o dia seria longo. Nada melhor do que umas boas palavras incentivantes logo após acordar.

3 comentários:

vmbsf disse...

Estava à toa na vida, o meu amor me chamou pra ver a banda passar...Chico já falava da alienação, na época era a ditadura militar, hoje é da estética, do consumismo, do capitalismo selvagem ...
Legal seu texto.

Anônimo disse...

Genial! Vou acompanhar o seu blog, gostei.

Marina Silva e Siqueira disse...

primeiro imaginei uma coisa meio v [warner] .. dps algo estilo admiravel mundo novo - ah sim, li por indicação sua. e depois, aparece esse desfecho super bruckz (ou eu devo chamar de bruna? rs.) enfim, interessante. sua ironia é tão gostosa de ler!