Dibs era o mais jovem dos indivíduos ali presentes. Tinha entre seus vinte e vinte e cinco anos. Não sabia muito sobre a vida, não sabia quem era, não sabia se era alguma coisa, ele era não sabe quem.
Vivendo entre linhas de liras e prosas, filosóficas ou suicidas, existenciais ou supérfluas, Dibs aproveitava seu tempo. Não sabia se era muito inteligente - nunca tivera nenhum grande estímulo e realmente acreditava que não tinha habilidades muito foras do comum. Talvez seus verdadeiros talentos tivessem sido sufocados com a incerteza da capacidade. Dibs não sabia exatamente como conviver com isso.
Apesar de ter alma de poeta e sonhos ingênuos, quando questionado sobre seus sentimentos, Dibs escondia-se atrás de ideologias tiradas de algum livro ou de algum comentário sarcástico que o colocasse na (ilusão de) posição de controle da situação novamente. Não sabia exatamente como lidar com isso.
Sentia que tinha opiniões e que podia desenvolvê-las, mas - os outros pareciam estar sempre com tão mais razão que Dibs não desperdiçava seus neurônios numa discussão ou debate.
Em sua alma lírica a ideologia que dominava era a do amor. Tinha uma sensibilidade quase feminina nesse aspecto. Sonhava em compor uma família, em viver entre atos de aprendizado, amadurecimento e carinho. Casar-se com a mulher amada. Ter filhos cujas bochechas rosadas alegra-lo-iam a cada instante do dia.
Por ser de espírito tão leve e simples, tendia a não destacar-se numa multidão - não que ele tentasse, de qualquer forma. Dibs geralmente era o garoto sentado na ponta da mesa, a olhar pelas janelas, a observar as nuvens e a tamborilar os dedos na lateral do copo. Quando seu discurso era requisitado, sorria de uma forma doce e assim satisfazia quem tivesse perguntado.
Dibs sentia-se tão diferente de Eduardo. Aliás, sentia-se quase intimidado só de estar na presença de um homem que, segundo suas fontes, era tão respeitável. Lembrava-se de ter visto Eduardo em tal revista algumas vezes. E Hermann então? Hermann poderia dar inimagináveis aulas sobre tudo o que é possível dentro de filosofia, psicologia, política, economia, história... Vez ou outra, Hermann lançava a Dibs um olhar quase paterno. E Fitz. Fitz era Fitz, oras! Bonito, rico, galã. Dibs não sabia a qual personalidade aspirar mais.
Dibs, com suas personalidade, alma e ideias ainda em formação. Dibs, com uma renda média, uma aparência média e uma vida social média. Dibs achava-se medíocre, queria ser mais, mas tinha medo de perder-se dentro desse "mais".
Um comentário:
Na abertura de um livro de Rollo May, citando um filósofo existencial,ele diz que "não se arriscar é correr o risco de perder a si mesmo".Portanto, Dibs,no medo de se perder, pode , de fato, estar se perdendo por não desenvolver seu potencial intrínseco.Eu sei, é complicado,mas eu não me contive.
24 Março, 2011
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