sábado, 19 de março de 2011

três homens - 2

Então a cena era a seguinte: uma taverna escura. Atrás do balcão, um garçom enxugando um copo. Numa mesa ao lado de uma janela, uma dama - cujas feições não podiam ser vistas - sentada ao lado de três cavalheiros, de um lado da mesa, e do outro encontrava-se sentado um jovem adulto, que encarava-os com interesse. Este último chamava-se Eduardo, e nada sabia dos outros três homens sentados a sua frente.
Após algum tempo dedicado ao silêncio e à reflexão, o senhor melancólico pronunciou-se.
- Mil perdões, minha dama, mas receio que minha presença aqui seja inútil, no melhor sentido da palavra. Creio que não há nada que eu possa adicionar à alma deste jovem rapaz. Ele parece-me decidido a não ouvir uma só palavra do que for dito aqui.
- Com licença, senhor, mas de onde veio tal afirmação? Eu nem sequer dirigi-te a palavra - Eduardo retrucou.
- Pela sua postura, meu jovem, é óbvio que você está convencido de que o modo como está vivendo é o melhor. Você está sentado de braços cruzados lançando-nos um olhar de frio e intensos desprezo, subestimação e desesperança. Acredito que tenha mudado de vida um tempo atrás e decidiu não voltar ao que foi outrora, estou certo? Bem, não é uma conversa com três homens desconhecidos que mudará suas atitudes. Epifanias morais não são tão recorrentes assim.
- Hermann, sê cauteloso com tuas palavras. Eduardo precisa de ti mais do que qualquer um neste instante. - a Dama interviu.
- Rapaz - o forte pronunciou-se - com licença, prazer. Meu nome é Fitzwillian, mas chamam-me Fitz. Tenho apenas uma pergunta: o que é que está fazendo aqui quando uma vida perfeita e almejada por todos encontra-se em sua casa?
- Minha Dama, acho que eu sou o que menos importa daqui, por que fui chamado? - o pequeno burguês perguntou.
Com um gesto, a Dama calou os três.
- Eduardo, estes são Hermann, Fitz e Dibs. Chamei-os porque cada um tem algo de essencial para dizer-te.
- Dama, como um velho frustrado como eu pode ajudar um jovem bem sucedido e realizado profissionalmente como este? Ele está por acaso procurando uma possível absolvição através da busca por excelência moral e intelectual? Não? Nesse caso, não há auxílio que eu possa oferecer. Retiro-me.
- Com licença, senhor Hermann, posso informar-me do motivo pelo qual o senhor está julgando-me a todo instante? Está aqui há pouco mais de um quarto de hora e acha que já me analisou completamente. Um cavalheiro digno e experiente como o senhor devia constituir suas opiniões de tópicos que vão além do preconceito. - Eduardo levantou-se e impediu que Hermann saísse.
- Oh, entendo. Vista essa reação, passo a acreditar que o senhor é um sujeito moral dos mais altos índole e caráter, que possui mente aberta e prontifica-se a uma mudança radical em seu estilo de vida caso haja interferência neste?
- Hermann, sossegue, não está vendo que o rapaz não está interessado em seus conflitos e críticas existencialistas? - Fitz intrometeu-se. A postura deste era realmente curiosa. Enquanto surgiam faíscas entre Hermann e Eduardo, ele apenas fumava seu charuto com os pés apoiados em cima da mesa. E Dibs apenas observava-os. Quando Hermann pronunciava-se, Dibs dava a impressão de querer levantar-se para concordar e defendê-lo, mas continha-se, e quando Eduardo fala, agia da mesma forma. Era um pobre homem perdido em delírios intelectuais e morais, reprimido pela própria consciência.
Já a Dama, a Dama assistia a tudo com certo prazer. Não falava, mas com certeza exercia uma grande força sobre os quatro ali presentes.

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