quarta-feira, 9 de março de 2011

três homens

Balançou a cabeça como se quisesse afastar aqueles pensamentos e voltar à sua realidade.
- O fato é que eu fui extremamente anti-ético e compartilhei a vida desse meu paciente deprimido com uma certa moça. Uma moça que não tinha como ser mais fútil. Na verdade, eu a considerava tão miserável que nem me lembro o que levou-a a procurar-me. Eu contei a ela sobre todas as preocupações, desilusões e inquietações do meu paciente, e ela convenceu-me de que ele era louco, de que ele estava cego; e vendeu-me o ideal de ser exatamente o oposto disso. Comecei a me tornar mais pragmático, fui perdendo meu lado idealista, parei de perder meu tempo com planos de uma revolução. Sei que ela foi muito conveniente.
- Ela apenas confirmou a ideia que estava se desenvolvendo dentro de ti. Não culpes tu essa moça totalmente por algo que só pôde tomar uma forma consistente depois que tu mesmo começaste a refletir a respeito.
Eduardo encarou-a. Tentou se lembrar do rosto da antiga paciente dissimulada. Havia algo de muito familiar entre a paciente e a moça.
Ele abriu a boca pra murmurar alguma coisa, algum protesto, mas foi interrompido pelo baque surdo da porta da taverna batendo na parede. Três homens entraram e juntaram-se a Eduardo e à moça. Ela parecia à vontade e familiarizada com aqueles homens. Um era alto, magro, até meio cadavérico - sua expressão era melancólica, tinha cabelos ainda muito negros e usava óculos de aro redondo. Estava vestindo terno e gravata, um traje excessivamente formal para a ocasião. O outro era forte, bonito, em seu olhar havia traços de desprezo e em seu sorriso havia linhas de superioridade. Por fim, o terceiro parecia incrivelmente comum, não tinha nenhuma linha de expressão muito marcante em seu rosto e usava roupas comuns de um burguês comum.
O terceiro homem foi o primeiro a se pronunciar.
- Chamou-nos, dama?
- Certamente, senhor. Eu preciso de ajuda com esse promissor rapaz.
Eduardo olhou diretamente para os olhos do terceiro homem e, novamente, sentiu que o conhecia ou reconhecia. Mas nada era certo - estava ébrio e ultrapassando a tênue divisão entre a realidade e a fantasia.

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