domingo, 24 de julho de 2011

solidão

Vejo-os passando. Ouço-os conversando. Não os julgo, apenas escuto. Não opino. Entendo-os perfeitamente, mas não espero ser compreendida. Faço um comentário ou outro, irônico, e provoco risadas. Tento introduzir-me um pouco mais à conversa, mas parece que fui além do que estava sendo discutido. Recebo uma resposta cortante e me recluso novamente. Quando tempo é necessário observar até se aprender?
Eu não era nova ali, já tinha passado por isso inúmeras vezes, mas devo admitir que nunca vou aprender a me comportar dentro dos padrões e das necessidades desse grupo. Sim, é verdade que estou nesse trabalho há alguns poucos anos - quatro, para ser mais exata -, já participei de muitos ciclos e até meus empregadores já aceitaram que eu não me encaixarei perfeitamente em nenhum, mas eu continuo tentando, por ser masoquista, por ser idiota.
Eu cheguei a tentar pedir demissão, ou para ser transferida para outra área, mas meus empregadores sempre dizem que eu posso, que eu não devo negar minha habilidade para trabalhar naquela área, então os próprios me recusaram a mudança. E eu não pude fazer nada além de concordar e sair de cabeça baixa.
Mas eu não sei se sou útil. Provavelmente não. Provavelmente só estou ali para fazer volume. É fato que em trabalhos e projetos individuais eu sempre consigo impressionar meus chefes com minhas ideias, mas quando se trata de fazer uma reunião e chegar à unanimidade, minhas atitudes parecem ser todas falhas. Olham para mim como se eu fosse louca, como se eu enxergasse coisas que não existem. Pobres coitados. Eu realmente não enxergo o óbvio, porque sempre enxergo além dele! E eu me pergunto até quando, até quando essas almas se restringirão ao óbvio, ao palpável, ao fácil, ao conveniente e ao confortável? Toda grande mudança traz grandes benefícios morais, mas é tão difícil de ser fazer, precisa-se sair da zona de conforto. Sou louca por sair da zona de conforto? Sou anormal. Eu sei que sou anormal, pois o conceito de "normal" é dado pela maioria, e eu não estou nessa maioria. Mas terei de trabalhar o resto da minha vida com essa maioria, e depois de um tempo fica cansativo ser a anormal tantas vezes.
Uma vez sentei com meus empregadores e falei com eles sinceramente. De ser humano para ser humano. Perguntei a eles o porquê de toda essa tortura. Informei-os do meu vazio existencial, da minha solidão, do meu baixo moral, do meu cansaço e de uma possível desistência do melhoramento de minhas habilidades, sempre possível naquela empresa. Meus empregadores encararam-me com um misto de preocupação e compreensão.
"Sabemos por que razão você está triste", eles me disseram. "Você sente que não tem companhia". Lancei-lhes um olhar irônico. "Pelos motivos errados. Você tem de parar de exigir das pessoas o que elas não podem dar. Pare de ficar esperando, assim, sempre será surpresa. Nós sabemos que sua solidão não é física. Mas de qualquer forma, nós vamos mostrar-lhe a companhia perfeita para quando sentir-se sozinha".

E um espelho foi colocado na minha frente. "A melhor cura para a sua solidão de ideias é a introspecção".

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