quinta-feira, 4 de agosto de 2011

miserabilidade

Não sou egoísta, não acho que sou deus, não sou prepotente nem me acho onipotente, mas às vezes você chega a um ponto que se pergunta o que você está fazendo aqui, agora.
É, não é? Sabe, você venceu a corrida, passou na frente de outros bilhões de metades de pessoas. Entende isso? Se outro espermatozoide tivesse passando na sua frente, ele poderia estar aqui sendo mais útil do que você. Ele poderia estar vivendo menos miseravelmente. Ele poderia ser o cara que viria a descobrir a cura do câncer, quem sabe? Todos nós deveríamos estar honrando a memória de todos esses projetos de pessoas dos quais tiramos a chance de existir.
E ainda assim, você vive a sua vida miserável, dia após dia, refeição após refeição. Você não tenta ser o melhor que pode, não tenta aprimorar suas habilidades e seu intelecto, não lapida o seu ente, você simplesmente ignora a possibilidade de que outra pessoa, no seu lugar, poderia estar fazendo coisas maiores, fantásticas! Mas ah! isso não te impede de apenas ser. Claro, não é? às vezes a bebedeira nos afeta, já dizia Drummond que essa lua, esse conhaque, botam a gente comovido como o diabo, e vez ou outra temos aquela crise, aquele momento de consciência, aquela epifania momentânea e evanescente: sou eu quem estou aqui. Será que estou aproveitando ao máximo?
Mas enquanto alguns realmente pensam a respeito de dar algum valor, algum sentido à sua vida, alguns, como eu, sua miserável narradora, decidem que não há valor nem sentido em suas vidas. Alguns, como eu, chegam forçosamente à terrível conclusão de que qualquer um estaria fazendo melhor proveito do que se tem, em quaisquer condições, com quaisquer obstáculos. Triste, não? Desanimador. Claro que não pra mim, eu me conformei com essa ideia há tempos, e isso sim é o triste. Eu não deveria ter me conformado! Eu deveria ter tentado transformar essa realidade! Mas depois de travar tantas batalhas, contra mim e contra o mundo, depois de tantos ferimentos de guerra, você meio que desiste por exaustão, sabe? Depois de você tentar provar (ou iludir a?) você mesmo que sua vida tem sim um objetivo ou um sentido, vem o mundo e desprova, ou te dá motivos pra desistir, ou te faz sentir a pessoa mais fraca do mundo.
E nossa! acho que existem poucos sentimentos piores do que o vazio de sentido. Pois o vazio de sentido engloba muitos dos piores sentimentos, como o tédio, e, especialmente, o tédio dominical. Pois, sabe, a maioria dos problemas você consegue resolver com muita introspecção e batalha, porque muitos são essencialmente internos, mas o vazio existencial vem também de fora, vem do sentimento de inutilidade que é inexoravelmente produto da sua situação com sua reação a tal, e olha, é um negócio complicado de se resolver. Dá-me preguiça, muita preguiça. Dá-me medo de, no final das contas, não encontrar nada, e simplesmente descobrir (ou redescobrir, ou reafirmar) que, realmente, olha, esse negócio de uma vida com um sentido não é pra ti, não, amiga.
E olhar ao redor não podia ser mais doloroso, ver que todos têm suas ambições, ver seus personagens favoritos sucedendo no que queriam, ver quem não tinha mérito conseguir conquistar seus objetivos e você ali, observando as ondas irem e voltarem, numa estaticidade que enlouqueceria até os mais sedentários, mas que é tudo que você pode fazer!
Você não é especial. Você não é especial, você não é especial. Por mais que o capitalismo queira enfiar essas abobrinhas na sua cabeça, não se esqueça: você - não é - especial.
Doloroso, não? Essa é a fonte da minha miserabilidade. Mas fazer o quê?

5 comentários:

Buxexa disse...

Muito bom! É bastante realista (característica que muitos confundem com realismo), e tem reflexões muito maduras. Não sei se a vida é só sofrimento, pois que não a vivi por inteiro, mas entendo que boa parte dela é miserabilidade. Concordo com você quando diz que o capitalismo "planta abobrinhas" na cabeça da gente, fazendo-nos acreditar que temos mais do que realmente temos. Mas não se esqueça que, mesmo geneticamente, pessoas têm qualidades diferentes; cabe a você aproveitar as suas. Você pode não se sentir especial, mas sabia que você não é uma pessoa qualquer (paradoxal, não?).
Bem, é isso. <3

Anônimo disse...

Como você cresceu e se tornou essa menina INCRIVEL, CHEIA de conteúdo, de paixão pela vida, vivendo no meio que você vive? Nessa sociedade, com esses valores? Parabéns...

bruckz disse...

/\ obrigada mãe. (?)

Marina Silva e Siqueira disse...

uahuahuahuahuahuauaa < sobre o comentario acima. desculpa.

concordo. vazio existencial é horrivel. e a consciencia de que somos NADA. doi demais perceber isso, doi demais nao conseguir se convencer de que tudo tem um sentido, doi demais nos sentirmos tao vis... nao sei se serve de consolo, mas eu acho que qualquer um dos outros espermatozoides que tivesse ganho a corrida no lugar do seu seria igualmente desimportante - sem ofensa. no final a unica verdade é ser boa com as pessoas que se aproximarem. é tudo inutil, vazio e estéril, mas o suicidio nao mudaria nada... entao sobra ser boa com os mais proximos. voce nao vai mudar o mundo, ainda que voce inspire uma revoluçao. contudo, ser ranzinza, triste, cheia de odio e de preguiça só vai afundar mais a sua existencia na improdutividade e na inutilidade, ... sei lá, soa muito hipocrita sair da minha boca um discurso de "vamos amar ao proximo pois amor é a unica verdade do mundo", eu nem acredito em amor... mas vamos ser bons. ser bom nao faz sentido tanto quanto TODO o resto, mas ser bom vai fazer voce feliz, e vai fazer outras pessoas felizes... nao sei se me fiz clara, mas é que, já que nada faz sentido ou tem um motivo para ser, sei lá, porque tornar esse 'vazio' doloroso quando ele pode ser paz? existir é nulo. existir embriagado de auto destruição é... negativo

vmbsf disse...

Bom,primeiro:não escrevo NADA anônimo, não é meu o comentário de elogios.
Segundo :o sentido da vida é algo a ser encontrado, a cada momento, a cada fase, enfim, espero que todos vocês o encontrem.
Gostei do que a Marina escreveu à respeito de não ser ranzinza, não fazer da sua vida ainda pior do que a sente.
E por fim :Bruna, sua vida é repleta de sentido, de coisas boas, tenho certeza de que você ainda descobrirá porque está viva,aqui,no planeta Terra.