Chegou da escola.
Após jogar sua mochila no canto demarcado da cama, foi até o banheiro e olhou-se no espelho, para ver quais pensamentos apareceriam em sua mente. "Oi, meu nome é Bruna", pensou. "Eu sou. Eu penso e existo. Eu sou a Bruna.". Isso não ajudou muito.
Fez uma careta. "Bruna, bela porcaria". Mostrou a língua para o próprio reflexo.
Jogou-se na cama. Olhou para o teto, e sentiu-se olhada. Sentiu-se observada. Sentiu-se presa naquelas quatro paredes, um teto e um chão. Sentiu-se ironizada pela vida. O seu quarto, o único lugar em que ela podia ser ela mesma, surtar, gritar, escrever, cantar, pensar, ser; a fazia se sentir presa.
Olhou para seus All-Stars, sujos, velhos, detestados pela sua mãe. Sentiu-se olhada. Sentiu-se adorada. Sentiu que os All-Stars gostavam mais dela que o teto. Sentiu que seus All-Stars, com suas solas gastas e cadarços tingidos, que a acompanharam em sonho e em decepção, em oferenda e em sacrifício, em euforia e em apatia; permitiam-na ser mais do que seu quarto.
O quarto a olhou, com seus vários olhos. Olhou para os All-Stars.
Um comentário:
Todas as experiências que vivemos passam a fazer parte de nós, pq mudam e nos transformam; mesmo as ruins.
O que importa é que você nunca se esquivou, sempre enfrentou, por mais desagradável que fosse; e também nunca ficou esperando que a fada madrinha resolvesse por você.
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