Há tempos não escrevo aqui. A última vez que escrevi foi mês passado, abril... pois bem. Em um mês, a história mudou completamente.
Decidi fazer parte do movimento Diretas Já. Resolvi seguir o senhor Teotônio, pois suas palavras me pareciam extremamente promissoras. Sonhar com um Brasil de eleições diretas era bom. E depois de tantos anos parada, me dei ao luxo e risco de participar de mais passeatas.
Então dia 27 de novembro, aconteceu uma passeata em São Paulo, 15 mil pessoas. Se o senhor Teotônio tivesse visto, estaria orgulhoso... Esta aqui é pra você, Teotônio! Mas o infeliz morreu no dia da passeata. E que morte terrível... câncer generalizado. Eles te pegaram, Teotônio... te infectaram. Você até que resistiu bastante, mas no final, eles se juntaram, ficaram muito fortes, não dava pra combatê-los. Quem sabe um dos teus filhos, Teotônio Vilela Filho, não vira político pra honrar teu nome? Eu votarei nele, um dia.
1984 passou relativamente tranquilo. Eu ainda esperava por uma mudança no sistema, quando 1985 chegou. Chegou janeiro, fevereiro, março, em abril comecei a escrever meu diário, mas parei, quando vi rumores sobre tirarem militares do poder. Então anteontem foi aprovada no Congresso uma emenda que acabava com a ditadura. Eu não pude acreditar! E inclusive teríamos eleições diretas. Enfim, Teotônio! Tua batalha não foi em vão.
Isso significava que finalmente poderíamos ser livres. Isso significava que eu não sobrevivi à ditadura à toa... Esta era minha recompensa. Por perder minha família, por perder meu amor, por perder minha dignidade, por ter sido torturada, por ver meu país, minha CASA ruir. Mas e agora?
Minha vida toda eu lutei contra a ditadura, o controle de idéias e a restrição de ações. Agora que a ditadura acabou, o que eu vou fazer? Voltar ao meu trabalho antigo? Procurar outro amor, formar uma família e passar meus finais de semana assando bolos? Isso não tem nada a ver comigo. Então só há uma coisa a ser feita.
(continua)
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