- Você! Parada! Mãos para cima e joelhos no chão!
É simplesmente ÓBVIO que eu não obedeci ao policial. Meu grupo de revolucionários já havia lutado contra a polícia várias vezes... E essa é apenas mais uma vez... Nossas revoltas não estavam tendo muito sucesso, mas não podíamos ficar parados, sem fazer nada. Não podíamos sentar e assistir enquanto nosso país era dominado por militares e inflação. Não, isso era demais pro nosso orgulho!
Enfim, eu corria pelas ruas - as ruas que eu já conhecia muito bem, depois de tantas fugas - e procurei por algum rosto amigo que pudesse me mostrar uma saída, atalho o "passagem secreta" - que era como chamávamos esgotos e túneis subterrâneos - que me levasse ao meu exílio. Meu e dos meus companheiros. Mas não achei nada.
Virei uma esquina, segui reto, após saltar um muro ganhei uma boa distância do policial e consegui escapar. "Isso está ficando cada vez mais fácil", pensei comigo mesma, "mas devo começar a maneirar, já estou em muitos cartazes". Cheguei ao bar cujo dono era amigo meu. O bar era no térreo de um prédio cujo quarto andar era meu exílio.
- E aí Zé, muito movimento hoje? - eu pergunto ao meu amigo, o dono do bar.
- Nada! Com essa opressão toda pra esses lados, quase ninguém tem vindo aqui... Você e seu grupo um dia terão de pagar por todas as cervejas que eu não tenho vendido! - ele me respondeu. No fundo, eu sabia que ele estava brincando, e que apoiava qualquer tipo de ação/revolução tanto quanto eu. Respondi com uma piscadela, e subi as escadas até o quarto andar.
Abri a porta, e o vi. Ele era forte, íntegro, batalhava por uma mudança no sistema como nenhum de nós conseguia. Sempre sabia o que fazer, como agir, o que dizer, o que divulgar. Ele tinha tudo em suas mãos. Inclusive eu. Eu o amava. A segurança que ele transmitia, a confiança, mas principalmente os sonhos, me deixavam suspirando em meu quarto todas as noites. Mas é claro que eu não poderia dizer isso! Qualquer tipo de ligação entre os membros do MRN-03, do qual eu fazia parte, era expressamente proibido por ser perigoso para os membros.
- Maria? - ele me chamou pelo meu nome fictício ou pseudônimo.
- Diga, João. - João era, ironicamente, seu pseudônimo.
Ele se aproximou, e pude sentir seu olhar cair sobre meus ombros, que estavam machucados graças ao arame farpado pelo qual passei durante a fuga. Colocou sua mão direita em meu ombro direito. Uma mão firme, quente, segura. Me senti como se pudesse pegar sua mão e sair pra guerra, porque com ele, eu estaria segura. Uma lágrima brotou dos seus olhos, tirando-me do transe.
- Eu temo muito pela sua vida. Isso, em que estamos envolvidos, é tão perigoso... Sinto que você faria coisas grandiosas se esperasse tudo isso passar, e resolvesse trabalhar na imprensa ou num futuro governo. - Eu ouvi cada palavra. Sua voz de veludo, profunda, me deixava embriagada.
- Não se preocupe, João, eu sei me defender...
- Maria - ele me interrompeu -, se algo acontecer a você, eu nunca vou me perdoar.
Olhei pra ele com ternura e me perguntei se ele me amava como uma irmã mais nova ou como... amante.
Então eu soube.
Ele pegou minha mão, e me abraçou. E naquele momento, naquele milésimo de segundo, senti uma fagulha dentro de mim me dizendo que ele me amava. Que ele me amava com tanta ou mais intensidade do que eu. E que nós estávamos destinados a encarar juntos esse mundo, esse mundo tão frio, controlado e corrompido no qual nós vivemos... E eu também soube que a vida sempre seria uma aventura ao seu lado. E eu também soube que se eu morresse na próxima hora, dia, semana ou mês, eu morreria satisfeita de saber que eu encontrei meu amor verdadeiro antes de morrer.
Então ele me guiou até o sofá, ligou a TV, e começamos a assistir.
7 comentários:
Graças ao bom e generoso Deus vc nasceu depois disso tudo, pq, do contrário, teria sido uma revolucionária, com toda certeza.Ah!E a forma como descreve o romance...é linda, terna. Boa essa sensação, né?
Aliás, vc é uma revolucionária, considerando suas crenças, atitudes, sua luta pra não ceder ao lado negro da força, nesse mundo fútil que a cerca. Mas encontrou um par. Isso torna a jornada menos penosa.
Ainda bem que vivemos depois dessa merda! hahaah. Enfim, Bru, vc escreve mt bem, esse texto tá ótimo, continue escrevendo he.
amei, sister! você escreve muito bem *-*
Putz, muito bom, muito bom mesmo!
CAAAARAAAAAAAAAAAAAAAAAAACAAA, BRUCKKZ ! *_______*, MUITO MANEIRO! ... nossa, to adorando esses textos que misturam romance e história... muito foda, muito bem pesquisado, e muito bem escrito.. atoray =D
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