sábado, 16 de janeiro de 2010

Folha de São Paulo

11/05/1985

Foi encontrada ontem morta em seu apartamento a dona-de-casa Valentina Pires. Ela esteve presente em várias revoltas contra a ditadura quando mais jovem, e era uma das pessoas mais procuradas pelo antigo DOPS. Valentina fez parte de um dos MNR (Movimentos Nacionalistas Revolucionários) aqui da capital de 1965 até 1971, segundo relatos de seu diário (encontrado em cima do criado-mudo em seu apartamento), organizando revoltas, capturando policiais, orientando outras pessoas sobre a ditadura e divulgando os horrores que o DOPS fazia com seus presos políticos. Era conhecida como Maria.

A causa da morte foi envenenamento (o veneno ainda não foi divulgado), e ao lado de seu corpo foi encontrado um bilhete: "Enfim, a ditadura conseguiu me envenenar por completo. Não posso viver com ela, não posso viver sem ela.". Em seu diário, ela expressava sua necessidade por uma revolução e seu gosto por passeatas e revoltas, e quando a ditadura teve seu fim convicto, em suas palavras, "Minha vida toda eu lutei contra a ditadura, o controle de idéias e a restrição de ações. Agora que a ditadura acabou, o que eu vou fazer?".

Apesar de que agora o que mais se encontra é gente morta em esquinas, apartamentos, casas e estradas, essa morte pareceu afetar profundamente os nervos de antigos militares, principalmente com a divulgação confirmada de seu diário, que, como não tem título definido pela autora, será chamado "o Diário de Maria".

Lembramos que qualquer relação com "O Diário de Anne Frank" é pura coincidência.

- FIM -

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